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Poemas inéditos de Marcus Fabiano Gonçalves

Onde há alturas, há grandes precipícios.
Sêneca

AUGE : SOLO 

escadaria, grua, rampa, andaime
ou uma ascensão de montanhista 
munido de grampos e cordames
(petrechos da grimpa à segurança)

Pico da Neblina: Monte Roraima
Empire State: minarete do sultão
Himalaias: Cordilheira dos Andes 
(outros ápices do sublime de Kant)

pelo vagaroso soerguer das lajes
a cobiça por altiplanos e andares 
uma violenta voragem de cumes
na conquista do que urge e tarda 

à diferença do degrau da descida
e de tudo mais que paire ou plane
cem pregos do faquir em sua cama 
os costilhares na palha do tatame. 

A PÚRPURA DE TIRO

o que mais se amua na beligerância 
não esmorece em benigno sumidiço 

entre as tinturas nas tinas de tecidos
esplende um roxo rútilo e incoercível

na vasta praia de uns miúdos búzios
a matéria toda para a púrpura de Tiro

no tingimento tão valioso dos fenícios
jamais o delir que sói à cor do índigo. 

                                                          04/04/2015

TINAMUS SOLITARIUS

sozinho um macho incuba
a sua prole toda sem ajuda
só a maciez contra o duro
o ninho no chão, no junco

na vita brevis dessa ars longa
sorte é a de quem encontra
a cada mês, ano ou lustro
o ovo azul de um macuco.

O ASCENSORISTA

piloto treinado, decorou o painel (refeito) para que sobre a banqueta exígua até com lâmpadas queimadas mantivesse a viagem tranquila. adentra a cabine, despede-se do dia: uma carburação de bisteca & jerimum conserva suas costas tesas na dormência da sambiqueira. à tarde doma o sono em pose de mordomo: espreme a uretra entre joelhos juntos e escora um ombro. disfarçando-se com recato em voz de comissário, encerra a jornada (sempre exausto) entre nuvens de amoníaco e acenos aos serventes de cada piso. logo apressa o pregão e a demanda dos andares: talvez já faça noite na próxima aterrissagem. o sol do relógio enfim põe-se à soleira da portaria. parte temendo os automáticos de puro aço e voz feminina.

Picture of Marcus Fabiano Gonçalves

Marcus Fabiano Gonçalves

(1973) é gaúcho e mora no Rio de Janeiro, onde é professor de Hermenêutica e Filosofia do Direito na Universidade Federal Fluminense – UFF. Em 2019 publicou Bruno Palma, escolhedor de palavras – ensaio sobra a arte e o ofício de um tradutor (ECA-USP).

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