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Poemas inéditos de Glauco Mattoso

NOBEL DE MEDICINA [8605]

Até que emfim premiam quem achou
na cellula que exquenta com pigmenta
a cura de hypotheticas molestias!
Alem da sensação de calor ou
daquella de pressão que sobre nós
o mundo sempre exerce, ‘inda faltando
está quem a coceira a analysar
esteja. A comichão, ou o prurido,
qual seja como chamem o problema,
é coisa de importancia tão vital
que coçam a cabeça as renomadas
cabeças. Uma pulga attraz de cada
orelha nos intriga. A dor tem sido
bastante pesquisada. Agora chega
o tempo de estudarmos a coceira!
Mas rapido, sinão vou me rallar
todinho usando um desses bambus, unica
maneira, à japoneza, de chegar
ao poncto que, nas costas, nos afflige!

NOBEL DE PHYSICA [8606]

Ganhou, tambem na physica, quem viu
que está a nossa desgraça mais global
no tal de “effeito extupha”, “acquescimento”
que só tende a augmentar, na proporção
inversa à do “calor humano”. Ou eu
não pude entender tudo o que se estuda
nas areas scientificas, acaso?
Sim, vejo que quem ganha algum Nobel
tem sempre convicções humanitarias.
Ou é minha cegueira que distorce
os factos em razão dum illusorio
e ingenuo sentimento de que irão
dar creditos a um cego, um bello dia?

NOBEL DE ECONOMIA [8610]

Quem ganha algum Nobel de economia
appenas manipula as estatisticas
a fim de demonstrar que mão barata
ainda barateia mais si for
num braço de immigrante. Eu, ca commigo,
que vivo num paiz bem informal,
de estudos economicos nem faço
questão de mão lançar para affirmar
que, quanto mais escrava a mão que trampa,
maior o desemprego dos que estão
attraz das garantias duma lei.
Mas disso os academicos ja são
scientes, nem precisam dum Nobel
nas midias a bombar. Aqui em São Paulo,
as ruas estão cheias de exemplares
historias que, dum minimo salario,
ao largo passarão e em cada praça
accampam, num verão qual num hinverno.

Picture of Glauco Mattoso

Glauco Mattoso

Paulistano de 1951, nos annos 1970 editou o poezine JORNAL DOBRABIL e destaccou se entre os poetas "marginaes". Compoz mais de septe mil sonnettos e assignou mais de cem livros de poesia, trez romances (um delles em verso), trez volumes de contos, alem de chronica e ensaio, de um tractado de versificação e de um diccionario orthographico, este systematizando sua reacção esthetica às reformas cacophoneticas soffridas pelo portuguez escripto. Mattoso perdeu a visão nos annos 1990 devido a um glaucoma congenito que lhe ensejou o pseudonymo litterario. Sua producção mais volumosa occorre appós a cegueira, graças a um computador fallante.

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