Reunião inédita, Do fim ao princípio: poesia completa – Adalgisa Nery traz de volta a obra poética da escritora elogiada por Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade, Mário de Andrade, Murilo Mendes, Jorge Amado, Jorge de Lima e Gilberto Freyre. O trabalho cuidadoso de Ramon Nunes Mello, fruto de sua pesquisa de mestrado, estabelece o texto definitivo da poesia completa da autora, de quem a José Olympio publicou os romances A imaginária e Neblina

Do fim ao princípio: poesia completa – Adalgisa Nery resgata uma importante voz feminina da poesia brasileira após quase 50 anos da publicação de seu último livro. Mulher de personalidade magnética, Adalgisa Nery encantou a todos que a conheceram, especialmente por sua sensibilidade. Em 36 anos de carreira, publicou sete livros de poemas, dois romances, uma coletânea de contos, outra de crônicas e quatro traduções. A extensa atividade literária iguala-se somente à vida pública, como jornalista atuante e política combativa. Sua produção poética revela uma mulher preocupada com as grandes questões do espírito: o amor, o abandono, a morte, o desejo.

Adalgisa teve uma vida agitada e próxima de grandes acontecimentos. Foi casada com o pintor modernista Ismael Nery e, depois de viúva, com Lourival Fontes, que era diretor-geral do Departamento de Imprensa e Propaganda de Getúlio Vargas e se tornou embaixador. Conheceu Frida Khalo e Diego Rivera e foi retratada por ambos. Frida também dedicou à amiga uma página de seu diário. Adalgisa assinou a coluna “Retrato sem retoque” no jornal Última Hora, de Samuel Wainer, que lhe trouxe ainda mais prestígio e ajudou a deslanchar sua carreira política. Foi uma das primeiras mulheres eleitas deputada estadual no país e acabou cassada pela ditadura militar.

Do fim ao princípio é uma coletânea completa e inédita, organizada por Ramon Nunes Mello, estudioso da poeta, reunindo os livros Erosão (1973), Mundos oscilantes (1962), As fronteiras da quarta dimensão (1951), Cantos de angústia (1948), Mar do deserto (1943), A mulher ausente (1940) e Poemas (1937). A antologia que começa nos poemas finais e vai até os primeiros livros traz ainda um encarte de fotos, poemas em homenagem à escritora, fortuna crítica, biografia, cronologia e índice de primeiros versos, e marca o retorno de Adalgisa Nery ao lugar de destaque do qual nunca deveria ter saído.

“Pode-se dizer que Adalgisa escreveu um inventário da solidão, preenchido com um longo grito de angústia a Deus”, escreve Nunes Mello no prefácio. “Acho que todos nós a amávamos, mesmo não sabendo que se tratava de amor. Amávamos nela a obra de arte viva”, escreveu Carlos Drummond de Andrade.