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Théodore de Banville, poemas – Trad. Henrique Nascimento

O PASTOR

Enquanto à nossa volta a natura se doura,
Ébria de flores, de amor e de luz da aurora,
E tudo se embeleza com raios ridentes,
Cientistas, pensadores, gênios, os videntes,
Os sábios que acreditam no que toca a mão
No seu compasso têm a agreste imensidão,
E dizem: este Pastor, a quem Deus tu chamas,
Não existe. Lá no alto, pelas chãs de chamas,
Brancos rebanhos vão e ninguém os conduz,
Ao acaso, na trilha habitual e na luz,
E, sem que nada dificulte o seu progresso,
Quando cansados, para antros de ouro regressam.
E assim, em seu reduto cheio de fumaça,
Doutos briosos, em cujo ouvido nada passa,
Murmuram, apontando para o céu imenso:
Lá tudo é vazio, pois tudo está em silêncio.
Mas para embalar o infinito que descansa,
Pensativo, o gentil Pastor a lira alcança,
Toca-a, e conduz os monstros vermelhos e, após,
Constelações, e as Hidras, e todos os sóis,
E, sem que importe o caçador no acampamento,
Rebanhos de astros faz marchar no firmamento.

LE BERGER

Tandis qu’autour de nous la Nature se dore
Ivre de fleurs, d’amour et de clartés d’aurore,
Et que tout s’embellit de rayons souriants,
Les chercheurs, les penseurs, les esprits, les voyants,
Les sages, dont la main croit à ce qu’elle touche,
Tiennent dans leur compas l’immensité farouche,
Et disent : Ce berger, que vous appelez Dieu,
N’existe pas. Là-haut, dans les plaines de feu,
Les blancs troupeaux, suivant la trace coutumière,
Sans nul guide, au hasard, marchent dans la lumière
Et, sans que jamais rien ne gêne leur essor,
Rentrent, quand ils sont las, dans leurs cavernes d’or.
Puis dans leur noir réduit, plein d’ombre et de fumée,
Les orgueilleux savants, dont l’oreille est fermée,
Murmurent, en montrant d’en bas les vastes cieux :
Là tout est vide, car tout est silencieux.
Cependant, pour bercer l’infini qui respire,
Le doux Berger pensif touche sa grande lyre ;
Il conduit par ses chants tous les monstres vermeils,
Les Constellations, les Hydres, les Soleils,
Et, sans souci du vil chasseur qui tend des toiles,
Fait marcher devant lui ses grands troupeaux d’Étoiles.

A CHARLES BAUDELAIRE

                 A eux la faute, pourquoi tant d’orgueil ?
                   Stendhal.


Ó poeta, é preciso, honremos a matéria;
Mas não a honremos com uma amizade fera,
E não ofendamos, por prazeres à míngua,
O Amor que se recorda e que sempre se vinga.
Nossa alma é, muitas vezes, como essa Bacante,
Que, com uma amável atitude provocante,
O Sátiro acarinha e segura em seus braços,
Rubro de seus desejos e seus embaraços,
Lábios semicerrados, cabeça pra trás,
E que o infante Amor castiga com rosais.

À CHARLES BAUDELAIRE

                 A eux la faute, pourquoi tant d’orgueil ?
                   Stendhal.

O poëte, il le faut, honorons la Matière ;
Mais ne l’honorons point d’une amitié grossière,
Et gardons d’offenser, pour des plaisirs trop courts,
L’Amour, qui se souvient, et se venge toujours.
Notre âme est trop souvent comme cette Bacchante
Que, dans une attitude aimable et provocante,
Le Satyre caresse et retient dans ses bras,
Rouge de ses désirs et de son embarras,
La tête renversée et les lèvres mi-closes,
Et que l’enfant Amour châtie avec des roses.

Théodore de Banville par André Gil dans Les Hommes d'Aujourd'hui, n°63.

OS FERREIROS

Bigorna rítmica e sonora
Moldando o canto dos ferreiros,
Mais alto se evola na aurora
Que o altivo som dos corneteiros.

João e Tiago
A forja ruge e ilumina
Rostos por nortada trincados,
E seu reflexo entre a neblina
Afasta os corvos desvairados.

Natal à Páscoa, não apago,
Noite e dia, é como um inferno.

Tiago
Meu irmão João,

                          João
                          Irmão Tiago,

Tiago
Sopra o fogo!

                       João
                       Golpeia o ferro!

Tiago
Ferro grosseiro que a fornalha
Cobre com seu negro agasalho,
Que até o final da batalha
Trema e gema sob este malho!

João
Ao sofrer tua transformação,
Tu sairás, ainda escuro,
Da ardente e rosa fundição
Em meio a feixes de ouro puro.

Tiago
Depois serás o rude arado!
E espalharás, em tuas gretas,
Loura ceifa, que tem saudado
Coro alado de borboletas.

João
Tu serás dos que se consomem,
Corcel sem medo e aterrador,
Que em seus flancos leva um homem
De carvão rubro e de vapor.

Tiago
O centeio que amadurece
Dobrarás com foice que o abate,
Este mar vivo onde estremece
A flor do azul e o escarlate.

João
Luz, que pelas sombras é envolta,
Renascerás no sol imenso;
És ferro de espada na volta,
Que enrubesce de sangue denso.

Tiago
Teu vil destino enfim se eleva!
Tu vais surgir na claridade:
Gládio ou charrua em que a liga deva
Servir a móvel humanidade.

João
Tu te agitarás por justiça!

Tiago
Tu servirás para rasgar,
Da mãe terra, o seio que viça!

João
Tu vais lutar!

                         Tiago
                          E laborar!

LES FORGERONS

Rhythmé par le marteau sonore,
Le chant joyeux des forgerons
S’envole à grand bruit vers l’aurore,
Plus fier que la voix des clairons.

Jean et Jacques
La forge mugissante allume
Nos fronts par la bise mordus,
Et son reflet parmi la brume
Chasse les corbeaux éperdus.

De la Noël au jour de Pâques,
Nuit et jour, c’est comme un enfer.

Jacques
Mon frère Jean,

                          Jean
                         Mon frère Jacques,

Jacques
Soufflons le feu !

                         Jean
                        Battons le fer !

Jacques
Fer grossier que la cheminée
Couvre ici de son noir manteau,
Jusqu’à la fin de la journée
Tremble et gémis sous le marteau !

Jean
Pour subir ta métamorphose,
Tu vas sortir, obscur encor,
De la fournaise ardente et rose,
Au milieu d’une gerbe d’or !

Jacques
Puis tu seras l’âpre charrue !
Tu répandras sur les sillons
La moisson blonde, que salue
Le chœur ailé des papillons.

Jean
Tu seras le coursier de flamme,
Le coursier terrible et sans peur
Qui dans ses flancs emporte une âme
De charbon rouge et de vapeur.

Jacques
Tu seras la faux qui moissonne,
Tu courberas le seigle mûr,
Cette mer vivante où frissonne
L’écarlate et la fleur d’azur.

Jean
Lumière, d’ombre enveloppée,
Tu renaîtras au grand soleil ;
Tu seras le fer de l’épée
Qui se rougit de sang vermeil.

Jacques
Ton destin vil enfin s’élève !
Tu vas surgir dans la clarté,
Pour te mêler, charrue ou glaive,
À la mouvante humanité !

Jean
Tu frémiras pour la justice !

Jacques
Tu serviras à déchirer
Le sein de la terre nourrice.

Jean
Tu vas combattre

                          Jacques
                         Et labourer !

A RENASCENÇA

               Ameine avecques toy la Cyprienne sainte…
                  Ronsard, Églogue II.

Diz-se que uma virgem com ornamentos d’ouro,
No ombro das ondas, vinha entre o Chipre e Citera,
Que os seus luzentes pés, acariciando a terra,
A cada passo dado deixava um tesouro.

Canta o pássaro rubro a revoar, sem coro
Encanta o bosque enquanto a solidão aterra,
E os frios arroios onde o homem se desaltera,
Sentiram mais frescor desde o seu minadouro.

A flor se abre mais pura aos beijos da nortada,
E sob murtas a virgem mais enamorada
Reergue nos seus braços o amante ajoelhado,

Tal como floresceu no fundo da alma do homem
Na vinda Renascença, e sobre nós brilhado
Tem da mesma maneira esta outra Anadiômena.

LA RENAISSANCE

               Ameine avecques toy la Cyprienne sainte…
                  Ronsard, Églogue II.

On a dit qu’une vierge à la parure d’or
Sur l’épaule des flots vint de Cypre à Cythère,
Et que ses pieds polis, en caressant la terre,
À chacun de ses pas laissèrent un trésor.

L’oiseau vermeil, qui chante en prenant son essor,
Emplit d’enchantements la forêt solitaire,
Et les ruisseaux glacés où l’on se désaltère,
Sentirent dans leurs flots plus de fraîcheur encor.

La fleur s’ouvrit plus pure aux baisers de la brise,
Et sous les myrtes verts, la vierge plus éprise
Releva dans ses bras son amant à genoux.

De même quand plus tard, autre Anadyomène,
La Renaissance vint, et rayonna sur nous,
Toute chose fleurit au fond de l’âme humaine.

ASSASSINO DE MONSTROS

Belo monstro recosta-se em sombras sem fim
E apenas deixa ver seu seio de marfim,
Seu cabelo de fogo e o rosto sorridente,
E Teseu, admirando a alvura de seu dente,
Vê seu braço brilhar e que suave se posa,
No agudo seio florescer botão de rosa.
À distância cachorros latindo se ouvem,
E a encantadora voz do monstro falou: vem,
Porque este antro é um refúgio pacato.
Amigo, eu mesmo vou desatar teu sapato,
Teu casaco na grama estenderei, com zelo,
E vais adormecer com a testa em meu cabelo
Sem que importune a luz que algum astro possua.
Mas, enquanto falava, a suave luz da lua
Aparece, e o herói, naquela parca luz,
Vê resplender em meio às escamas azuis
Um corpo misterioso, o monstro cuja cauda
De vil dragão, qual mar que verde se desfralda,
Desenrolava anéis e ossadas brancas ante
O brilho de seus pés, sob o claro diamante
Da lua. E se faz surdo ao monstro encantador
E, depois, segurando a trança com furor,
Dourada crina que no seu olhar caía,
Erguendo a sua espada, grita de alegria,
E duas vezes fere o seu peito e o arruína.
Uivando como lobo em floresta divina,
Cerrando a cauda, torce os braços – ver é duro – 
A Hidra de rosto humano cai no sangue escuro,
Enquanto o herói, sob esta sombra que se eleva,
Limpando a espada úmida com tufos de erva,
Se afasta; e, sem que o grito o houvesse perturbado,
Observou ficar branco o céu estrelado.

TUEUR DE MONSTRES

Le beau monstre, à demi couché dans l’ombre noire,
Laissait voir seulement sa poitrine d’ivoire
Et son riant visage et ses cheveux ardents,
Et Thésée, admirant la blancheur de ses dents,
Regardait ses bras luire avec de molles poses,
Et de ses seins aigus fleurir les boutons roses.
Au loin ils entendaient les aboiements des chiens,
Et la charmante voix du monstre disait : Viens,
Car cet antre nous offre une retraite sûre.
Ami, je dénouerai moi-même ta chaussure,
J’étendrai ton manteau sur l’herbe, si tu veux,
Et tu t’endormiras, le front dans mes cheveux,
Sans craindre la clarté d’une étoile importune.
Mais, comme elle parlait, un doux rayon de lune
Parut, et le héros, dans le soir triste et pur,
Vit resplendir avec ses écailles d’azur
Le corps mystérieux du monstre, dont la queue
De dragon vil, pareille à la mer verte et bleue,
Déroulait ses anneaux, et de blancs ossements
Brillèrent à ses pieds, sous les clairs diamants
De la lune. Alors, sourd à la voix charmeresse
Du monstre, et saisissant fortement une tresse
De la crinière d’or qui tombait sur ses yeux,
Il tira son épée avec un cri joyeux,
Et deux fois en frappa le monstre à la poitrine.
Et, hurlant comme un loup dans la forêt divine,
Crispant ses bras, tordant sa queue, horrible à voir,
L’Hydre au visage humain tomba dans son sang noir,
Tandis que le héros sous l’ombrage superbe,
Essuyant son épée humide aux touffes d’herbe,
S’en allait, calme ; et, sans que ce cri l’eût troublé,
Il regardait blanchir le grand ciel étoilé.

Théodore de Banville by Jules Roulleau, Jardin du Luxembourg, Paris.

A POMBA FERIDA

Ó pomba que fenece no céu azulado,
Reabre os olhos e a asa branca, enquanto cais!
Pois morre o teu algoz, o abutre é lacerado
             Pelas flechas mortais.

Ó vítima que cai, alguém já te vingou,
E pelo bosque em sombras, vê-se o teu irmão
sangrando, atado à aljava de um caçador
             que canta uma canção.

Pelos prados, o arqueiro jovial brincando
Passa entre a relva em flor, com a sua presa atrás,
Enquanto os dentes dos arbustos vão rasgando
             Os seus restos mortais!

LA COLOMBE BLESSÉE

Ô colombe qui meurs dans le ciel azuré,
Rouvre un instant les yeux, mourante aux blanches ailes !
Le vautour qui te tue expire, déchiré
Par des flèches mortelles.

Va, tu tombes vengée, ô victime, et ta sœur
Peut voir, en traversant la forêt d’ombre pleine,
L’oiseau tout sanglant pendre au carquois d’un chasseur
Qui passe dans la plaine.

Le jeune archer, folâtre et chantant des chansons,
Passe, sa proie au dos, par les herbes fleuries,
Laissant déchiqueter par les dents des buissons
Ces dépouilles meurtries.

SOB COPAS

Vão, entre o bosque rubro e radiante,
Sem mecenato, recitar poesia,
Trajando púrpura e ourivesaria,
Reis, semideuses e comediantes.

Seu odioso gládio Herodes brande;
Em um ouropel bordado se vestia
Cleópatra, e a sua saia florescia
Como os mil olhos de um pavão brilhante.

E então, tudo flameja sob crisólitas,
Os castanhos Adônis e as Hipólitas
Mostram peles de lobo e arcos dourados.

Pierrô carrega o garrafão com um urro.
Depois, com um ar doce e desolado,
Sonhando chegam o poeta e o burro.

SOUS BOIS

A travers le bois fauve et radieux,
Récitant des vers sans qu’on les en prie,
Vont, couverts de pourpre et d’orfèvrerie,
Les Comédiens, rois et demi-dieux.

Hérode brandit son glaive odieux ;
Dans les oripeaux de la broderie,
Cléopâtre brille en jupe fleurie
Comme resplendit un paon couvert d’yeux.

Puis, tout flamboyants sous les chrysolithes,
Les bruns Adonis et les Hippolytes
Montrent leurs arcs d’or et leurs peaux de loups.

Pierrot s’est chargé de la dame-jeanne.
Puis après eux tous, d’un air triste et doux
Viennent en rêvant le Poëte et l’Ane.

O SALTO DO TRAMPOLIM

Palhaço admirável, verdade!
Eu acho que a posteridade
Cujo horizonte sempre é velho,
Revê-lo-á com chagas no flanco.
Ele está manchado de branco,
Amarelo, verde e vermelho.

Até mesmo em Madagascar
Seu nome tem chegado, já
Que estava os princípios seguindo,
Por trás dos aros do papel,
Sem se estropiar, pulou no céu
entre as argolas do cachimbo.

Da gravidade se livrando,
Sem ver direito, foi cruzando
As escadas de Piranesi.
A claridade que o atingiu,
Qual luz de braseiro tingiu
E fez brilhar o seu topete.

Ele subiu a tais pendores
Que o restante dos saltadores
Se consumiu em lutas feias.
Acharam nisso mau augúrio
E sussurravam: “Que mercúrio
Este demônio tem nas veias?”

“Bravo!” Gritava todo o povo,
Mas ele, num esforço novo,
Sentiu cãibra e as pernas à míngua;
Saqui imitou como ninguém
E foi, mas sem saber com quem,
Cochichando em ignota língua.

Era com o caro trampolim.
E dizia-lhe: “Teatro, assim
Pleno de inspiração fantástica,
Trampolim, que a emoção te espasme
Quando eu me impulsionar, e faz-me
Saltar mais alto, prancha elástica!

Lombo forte do engenho frágil,
Faz-me pular, pois sou mais ágil
Do que as panteras e os leões,
Tão alto que eu nem mais consiga
Ver a roupa preta que abriga
Feirantes e tabeliães!

Algum prodígio em muita pompa
Dá que me arroje e o alto eu rompa
Até os cimos sem regra, contra
O ruivo emaranhado e a juba
De planetas e sóis, que eu suba
Onde o raio a águia encontra.

Aos Éteres cheios de estrondo,
Onde na noite atroz vão pondo
Seu alento exausto, em enleios,
Os ventos ébrios que, em furor,
Desgrenham-se no seu torpor
Em nuvens de pálidos seios.

Mais alto ainda, ao céu anil
Cuja lazulita cobriu
Nossa prisão instável, ou
Até Orientes coruscantes
Onde caminham, flamejantes,
Furiosos Deuses em terror.

Mais longe! E alto! E eu vejo calouros
Estudando com óculos de ouro,
Críticos, realistas em brasas,
E algumas senhoritas. Lá!
Mais alto! Mais longe! No ar!
No azul! Asas! Asas! Asas!”

Enfim, do seu vil cadafalso
Tão alto pulou tal palhaço
Que estourou o teto da lona,
Ao som da trompa e do tambor,
E, devorado por amor,
Nas estrelas pegou carona!

LE SAUT DU TREMPLIN

Clown admirable, en vérité !
Je crois que la postérité,
Dont sans cesse l’horizon bouge,
Le reverra, sa plaie au flanc.
Il était barbouillé de blanc,
De jaune, de vert et de rouge.

Même jusqu’à Madagascar
Son nom était parvenu, car
C’était selon tous les principes
Qu’après les cercles de papier,
Sans jamais les estropier
Il traversait le rond des pipes.

De la pesanteur affranchi,
Sans y voir clair il eût franchi,
Les escaliers de Piranèse[1]
.
La lumière qui le frappait
Faisait resplendir son toupet
Comme un brasier dans la fournaise.

Il s’élevait à des hauteurs
Telles, que les autres sauteurs
Se consumaient en luttes vaines.
Ils le trouvaient décourageant,
Et murmuraient : « Quel vif-argent
Ce démon a-t-il dans les veines ? »

Tout le peuple criait : « Bravo ! »
Mais lui, par un effort nouveau,
Semblait roidir sa jambe nue,
Et, sans que l’on sût avec qui,
Cet émule de la Saqui[2]
Parlait bas en langue inconnue.

C’était avec son cher tremplin.
Il lui disait : « Théâtre, plein
D’inspiration fantastique,
Tremplin qui tressailles d’émoi
Quand je prends un élan, fais-moi
Bondir plus haut, planche élastique !

« Frêle machine aux reins puissants,
Fais-moi bondir, moi qui me sens
Plus agile que les panthères,
Si haut que je ne puisse voir
Avec leur cruel habit noir
Ces épiciers et ces notaires !

« Par quelque prodige pompeux,
Fais-moi monter, si tu le peux,
Jusqu’à ces sommets où, sans règles,
Embrouillant les cheveux vermeils
Des planètes et des soleils,
Se croisent la foudre et les aigles.

« Jusqu’à ces éthers pleins de bruit,
Où, mêlant dans l’affreuse nuit
Leurs haleines exténuées,
Les autans ivres de courroux
Dorment, échevelés et fous,
Sur les seins pâles des nuées.

« Plus haut encor, jusqu’au ciel pur !
Jusqu’à ce lapis dont l’azur
Couvre notre prison mouvante !
Jusqu’à ces rouges Orients
Où marchent des Dieux flamboyants,
Fous de colère et d’épouvante.

« Plus loin ! plus haut ! je vois encor
Des boursiers à lunettes d’or,
Des critiques, des demoiselles
Et des réalistes en feu.
Plus haut ! plus loin ! de l’air ! du bleu !
Des ailes ! des ailes ! des ailes ! »

Enfin, de son vil échafaud,
Le clown sauta si haut, si haut,
Qu’il creva le plafond de toiles
Au son du cor et du tambour,
Et, le cœur dévoré d’amour,
Alla rouler dans les étoiles.

[1] Giovanni Battista Piranesi (1720 – 1778) foi um gravurista e arquiteto italiano.
[2] Madame Saqui (1786 – 1866) foi uma notável funâmbula francesa.

Picture of Théodore de Banville

Théodore de Banville

(1823 – 1891) foi um dos mais famosos poetas franceses do século XIX. Autor de vasta obra literária, influenciou uma plêiade de poetas. Nomeado por Mallarmé como “a própria Lira”, foi o último dos românticos e um dos tetrarcas do Parnaso francês.

Picture of Henrique Gomes do Nascimento

Henrique Gomes do Nascimento

Nasceu em Olinda, Pernambuco, aos 15 de dezembro de 1997. Poeta e tradutor, seu primeiro livro, Pássaros na noite, encontra-se no prelo da Editora Mondrongo.

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