No século XXI, os grandes escritores e ilustradores da Literatura Infanto Juvenil dispõem sua arte buscando, ora no plano da palavra, ora no plano da imagem, recursos que atendam às peculiaridades e particularidades cognitivas e emocionais de seu público-alvo, desencadeando a pulsão de mergulhar no trajeto que religa o real e o imaginário. Dialogam com seu tempo, valem-se da metalinguagem, da intertextualidade, dos avanços editoriais, da pluralidade de significados, da estruturação narrativa inquietante e questionadora e colocam em xeque a criança, o jovem, o mundo e os valores da atualidade. A diversificação quanto aos gêneros infantis e juvenis e a diversidade dos temas explorados respondem a interesses e exigências do leitor em termos de personagens e estruturas, além de atravessarem os estágios do desenvolvimento de cada fase evolutiva, indo ao encontro das preferências e modalidades desse público.
Por exemplo, a poesia escrita para criança é instintiva e cósmica, e a criança tem alma poética: é sensível à palavra, à rima e ao som. Na verdade a poesia é o idioma da criança. Há no seu cerne características do mundo infantil: harmonia, pela cadência, ritmada; brevidade, pelos versos curtos que dão facilidade ao leitor de reter atenção; e, por último, a facilidade, já que emprega linguagem clara. Rimas, onomatopeias, coincidências sonoras, estribilhos, refrões, ludismo sonoro são características desse gênero que vai ao encontro da infância e cuja intenção não é outra senão olhar e macular a realidade dessa fase da vida e chamar atenção para as surpresas que estão escondidas na língua além de modificar a forma de ler, já que a rima obriga o leitor a voltar atrás na leitura. A leitura passa então a ser feita não linha após linha, sempre para frente, mas, sim, num ir e vir entre o que está adiante e o que ficou para trás. Esse gesto desautoriza a leitura formal e leva o leitor a perambular, direcionando sua atenção para outro conjunto de significados. Esse deslocamento por si já justifica o trabalho com esse gênero, possibilitando uma maior desenvoltura entre os movimentos dos olhos e a percepção do poema. Há alguns bons poetas que escrevem para crianças e jovens, além dos clássicos Vinicius de Moraes, Cecília Meireles e Mário Quintana; mas foi José Paulo Paes que deu dimensões lúdicas à poesia, e depois dele, Leo Cunha, Claudio Thebas, Roseana Murray, Sergio Caparelli, Elias José, entre outros.
É crescente a criação de programas, seminários, cursos, feiras de livro e todo tipo de pesquisa preocupada em difundir e inovar o livro e a leitura. Faz-se necessário o engajamento de órgãos públicos, pais, educadores, responsáveis, editoras, escolas, entidades que fomentam e estimulam a leitura de qualidade, aprofundando rumos instigantes para novas investigações e questionamentos da LIJ. Sabemos da necessidade da criação de um vínculo entre texto e leitor desde a mais tenra idade. Por isso, precisamos levar a LIJ com linguagem literária e visão artística para todas as camadas da sociedade, pela sua natureza estimulante e não doutrinária que pretende despertar, no leitor, a vontade de pensar.
Rebeca Gelse Rodrigues
É psicóloga, educadora, assessora literária, contadora de histórias e poeta.