O púcaro búlgaro, último livro do autor, acaba de ser lançado pela Editora, que desde 2016 vem se dedicando a recuperar este conjunto literário

Grupo Autêntica

Walter Campos de Carvalho não acreditava na Bulgária: “Ao contrário do estado do Piauí, por exemplo, que existe, e é um estado sofrido. A Bulgária é uma imaginação que eu tive”, disse certa vez. E foi desse estado imaginativo que nasceu um dos romances mais surrealmente geniais da literatura brasileira. O púcaro búlgaro, obra derradeira do autor, foi originalmente publicada em 1964 e há anos encontrava-se esgotada (a última edição saiu em 2008, pela Editora José Olympio). Mas essa situação foi enfim resolvida: uma nova edição acaba de ser publicada pela Autêntica Editora, devolvendo aos leitores esse clássico nonsense.

Com isso, a Editora conclui o projeto de reedição de toda a obra do autor. A empreitada teve início em 2016, com o lançamento de A lua vem da Ásia, considerado por muitos o melhor livro de sua autoria. Em 2017, foi a vez de A vaca de nariz sutil e, em 2018, A chuva imóvel – o preferido de Carlos Heitor Cony. O trabalho editorial incluiu cuidadosas etapas de checagem e comparações entre a primeira e a última edição de cada título publicado enquanto o autor estava vivo – tudo isso para manter a fidelidade ao texto original e ao universo criado por ele.

A história de O púcaro búlgaro começa no verão de 1958, quando o protagonista, Hilário, em visita ao Museu Histórico e Geográfico de Filadélfia, se vê diante de um púcaro búlgaro. Sua vida é completamente transformada por esse acontecimento, fazendo com que o narrador-personagem dê início a um obstinado plano a fim de comprovar a existência – ou não – da Bulgária (já que dos púcaros ele não duvida). A ele se juntam Pernacchio, Radamés, Expedito e Ivo que viu a uva, tripulantes angariados em um anúncio de jornal.

O resultado desse encontro é um festival de absurdos que reforçam a criatividade, a força crítica, a ironia e o humor de um dos grandes autores brasileiros, comparado a Henry Miller e a outros nomes consagrados, que, apesar de tudo isso, segue lamentavelmente desconhecido do grande público – talvez, até, por “culpa” do próprio autor, que era avesso a aparições na imprensa.

Uma das raras entrevistas concedidas por Campos de Carvalho foi a Mário Prata, em 1995, para o Estadão. Na ocasião, revelou que a última conversa com um jornalista teria acontecido 120 anos atrás. Também contou que O púcaro búlgaro, escrito em 25 dias (“nem um dia a mais nem a menos”), era seu livro favorito. “Cada autor tem seu livro preferido, e esse é o meu, apesar de quaisquer razões em contrário e de ser um livro de apenas 100 páginas evidentemente não-autobiográficas, como todo livro deveria ser”, disse.

Pode haver motivos para duvidar dessa predileção, afinal a entrevista é, toda ela, uma galhofa, mas a qualidade da obra foi atestada por nomes como Aderbal Freire-Filho, responsável pela adaptação da história para o teatro, que afirmou: “O livro é tão bom que você vai duvidar”. Agora, está ao alcance de todos comprovar.

O PÚCARO BÚLGARO

Autoria:
Campos de Carvalho
Páginas: 112
Formato: 14 x 21 cm
Acabamento: Brochura
ISBN: 978-85-513-0798-4
Livro físico: R$ 59,80
E-book: R$ 41,90

Picture of Campos de Carvalho

Campos de Carvalho

Nasceu em Uberaba, Minas Gerais, em 1916, e faleceu em São Paulo, em 1998, antes de completar 81 anos. Deixou um conjunto de livros conciso, mas vigoroso, composto por A lua vem da Ásia (1956), A vaca de nariz sutil (1961), A chuva imóvel (1963) e O púcaro búlgaro (1964). Com este lançamento, a Autêntica Editora encerra a reedição da obra completa do autor, que optou por não republicar seus primeiros trabalhos: Banda Forra (1941) e Tribo (1954).

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