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“Teatro e Escravidão no Brasil” – João Roberto Faria

TEATRO E ESCRAVIDÃO NO BRASIL
João Roberto Faria

SINOPSE

O movimento abolicionista brasileiro também contou com as artes em seu esforço de denunciar a desumanidade da escravidão no Brasil. Este é um dos valores inquestionáveis desta obra do pesquisador João Roberto Faria, ao trazer a público uma extensa dramaturgia do século 19 em que a violência e os horrores do escravismo foi exposta ao grande público nos grandes teatros brasileiros e em grande número.

QUARTA-CAPA

Antes da internet, da TV, do cinema e do rádio havia apenas o teatro como caixa coletiva de ressonância social. No Brasil da segunda metade do século XIX, era por meio dele que a sociedade era refletida e refletia, ou não, sobre si mesma, seus deleites e suas mazelas, e não havia então mazela maior, nem que causasse mais polarização, do que o escravismo. Enquanto sucessivos governos evitavam a todo custo pôr um fim definitivo à chaga aprovando leis anódinas que pretendiam fazer uma libertação “lenta, gradual e segura”, para não prejudicar os fazendeiros e a economia nacional, a ideia abolicionista ganhava cada vez mais força e adeptos, principalmente nas cidades e entre os artistas e intelectuais. Resultado de extensa e profunda pesquisa, Teatro e Escravidão no Brasil, de João Roberto Faria, traz à luz eventos de norte a sul do país, resenhas de jornais, pareceres do Conservatório Dramático (responsável por autorizar ou não as encenações no Rio de Janeiro) e originais há muito esquecidos, resgatando o papel do teatro nesse embate que rachou a sociedade brasileira de alto a baixo, literalmente do trono à rua, e cujas consequências perduram até hoje. Um panorama não só das artes, como da luta pelo futuro do país.

JOÃO ROBERTO FARIA

Crítico, historiador e professor sênior da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH/USP). Discípulo de Décio de Almeida Prado, é um dos principais pesquisadores da história do teatro brasileiro, em particular do século XIX.
É autor de O Teatro Realista no Brasil (1993); Ideias Teatrais: O Século XIX no Brasil (2001); organizador de Machado de Assis: Do Teatro (2008); e da História do Teatro Brasileiro (2 v., 2012), entre outros.

DA CAPA

Imagem da capa: Teatro São João, c. 1820. Gravura. Lerrouge e Bernard a partir de Jacques Etienne Arago.

Mostra o principal teatro brasileiro do século 19 e o movimento de pessoas no largo, com escravizados em muito maior número.

O QUE DIZ O AUTOR

Minha intenção foi demonstrar que o teatro brasileiro colaborou intensamente para a formação de uma consciência antiescravista nos espectadores, bem como atuou na linha de frente do abolicionismo no decênio de 1880, dando inestimável contribuição à causa humanitária da libertação das pessoas escravizadas. Os sete capítulos que compõem este livro, organizados em ordem cronológica, contam a história do envolvimento dos nossos dramaturgos e artistas que escreveram e atuaram contra a escravidão no Brasil e a favor de sua extinção.

TRECHOS DO LIVRO

1.

Embora rarefeita, nunca como assunto central, a escravidão nas comédias de Martins Pena chamou a atenção de seu primeiro crítico importante, Sílvio Romero, que valorizou sobremaneira o aspecto documental presente na obra do comediógrafo. A seu ver, “uma das máculas nacionais que mais vivamente aparecem nas comédias do nosso compatriota é, sem dúvida, a escravidão”. E mais: “Não há nenhuma de suas obras conhecidas em que direta ou indiretamente ela não apareça; não há nenhuma em que não exista alguma referência à nefanda instituição por palavras que seja. Os termos preto, negro, escravo, moleque, mucama, meia-cara, lá estarão, ao menos para dar testemunho do fato.” Sílvio Romero considera Os Dois ou o Inglês Maquinista um verdadeiro documento de época. O tráfico ilegal de africanos aparece na comédia como dado verdadeiro e Negreiro, para o crítico, é um “descarado” de uma laia que enriqueceu com o contrabando. Seu presente para Clemência – o menino dentro do cesto – é referido como “um dos mais ridículos traços de nossos costumes, ainda nos primeiros anos do Segundo Reinado”. Para finalizar, afirmou ainda que “o contrabando e a escravidão eram coisas normais que não escandalizavam as melhores famílias”.

2.

A consequência funesta da escravidão está ali, palpável: o filho envergonha-se da mãe escrava, repudia-a porque tem medo de perder a família e a consideração social. Por contraste, a cena lembra o final do drama Mãe, de Alencar, em que se dá exatamente o contrário: o filho aceita a mãe escrava sem pensar nos preconceitos sociais. Evidentemente Maria Ribeiro conhecia a peça de Alencar e quis talvez mostrar outra maneira de abordar uma situação semelhante. Se Joana toma veneno e se suicida, negando a maternidade para proteger o filho dos preconceitos da sociedade, em Cancros Sociais a mãe afirma a maternidade e é o filho que se envergonha de suas origens. Ocorre que essa cena encerra o segundo ato, não a peça. A autora ainda não esgotou o manancial de suas críticas à escravidão e Eugênio é um bom homem, apenas assustado com tudo que aconteceu. Seu bom coração ainda falará mais alto, como revela o início do terceiro ato, que se passa dois meses depois, no dia 6 de setembro.

3.

Com a criação da Confederação Abolicionista, em maio de 1883, a colaboração da classe teatral passa a se dar com a presença de artistas nas matinês e festivais abolicionistas […]. Organizadas, as associações emancipadoras, sob a presidência da Confederação, promoveram dezenas de espetáculos aos domingos, muitos deles com a entrega de cartas de liberdade em cena aberta. Era uma forma eficaz de propaganda, como atestam os jornais da época. Claro que houve outras iniciativas com o mesmo fim beneficente, principalmente de sociedades dramáticas particulares, mas em número pequeno. O protagonismo coube mesmo à Confederação Abolicionista, que não perdia nenhuma oportunidade para incrementar a campanha pelo fim da escravidão.

4.

Não à toa os fazendeiros do Piraí diziam, em 1871, que “a parte mais produtiva da propriedade escrava é o ventre gerador”, como lembra Joaquim Nabuco em O Abolicionismo. A frase tanto pode dizer respeito aos filhos gerados por negros quanto aos gerados pelos proprietários. Gilberto Freyre, ao estudar o comportamento sexual dos senhores em relação às escravas, observou que não apenas eles, mas também seus filhos jovens eram estimulados a engravidá-las para lucrar com um maior contingente de escravos: “viram sempre com olhos indulgentes e até simpáticos a antecipação dos filhos nas funções genésicas”. Várias peças tocam nessa questão, revelando uma triste verdade do cotidiano escravista. Os senhores, quando não vendiam seus filhos, os mantinham escravizados e podiam fazê-los trabalhar como os demais ou, ao contrário, até mesmo afeiçoar-se a eles e proporcionar-lhes educação. Podiam também, quando casados, libertá-los e criá-los como afilhados, ocultando deles e da esposa a paternidade. Por vezes chegavam a perfilhá-los, mas sem revelar-lhes que eram filhos de uma escrava. Crianças bastardas, nascidas fora do casamento, foram abundantes em nossa sociedade escravista. Dezenas de peças exploraram as diferentes possibilidades de enredo a partir de um mesmo ponto de partida: uma escrava de pele clara tem um filho ou uma filha de seu senhor. O contrário – uma mulher branca se relacionando com um escravo – foi bem menos abordado.

SUMÁRIO

Cronologia

Introdução

1. Martins Pena: Registro Histórico e Crítica à Escravidão

[O Escravo na Roça; O Escravo na Cidade]

2. O Conservatório Dramático e a Censura à Escravidão no Teatro

[Uma Dura Crítica ao Tráfico; Peças Francesas; Peças Brasileiras Proibidas e Liberadas; A Censura de Machado de Assis]

3. A Escravidão nas Peças Românticas e Realistas

[Joaquim Manuel de Macedo; José de Alencar; Agrário de Menezes; Carlos Antônio Cordeiro; Paulo Eiró; Rodrigo Otávio de Oliveira Menezes; Valentim José da Silveira Lopes; Pinheiro Guimarães; Manuel de Araújo Porto-Alegre; Maria Ribeiro; Benjamim Augusto e Anibal Teixeira de Sá; Castro Alves; Antonio Deodoro de Pascual; Fagundes Varela; João Pereira da Costa Lima

4. Dramaturgia Antiescravista nas Províncias
[Rio Grande do Sul; São Paulo; Espírito Santo; Bahia; Pernambuco]

5. “A Cabana do Pai Tomás” nos Palcos Brasileiros
[As Adaptações Teatrais; Teatro e Propaganda Abolicionista no Rio de Janeiro; Nos Palcos das Províncias]

6. Dramaturgia Antiescravista de Autores Franceses e Portugueses
[Dramaturgia Francesa; Dramaturgia Portuguesa]

7. O Teatro e a Abolição
[Um País Essencialmente Agrícola; José de Lima Penante; Cândido Barata Ribeiro; Artur Azevedo; França Júnior; O Repertório Abolicionista de Moreira de Vasconcelos e Julieta dos Santos; Dramaturgia Gaúcha Abolicionista; Aluísio Azevedo: “O Mulato” em Cena; Ana Chaves Guimarães; Fernando Pinto de Almeida Júnior; Teatro Amador e Abolicionismo; Outras Produções Teatrais: Dramas e Revistas de Ano; Artistas Abolicionistas, Benefícios, Festas e Alforrias em Cena Aberta]

Conclusão: Um Retrato do Brasil Escravista
Bibliografia

Índice Remissivo

TEATRO E ESCRAVIDÃO NO BRASIL
João Roberto Faria
Teatro / Crítica / História

IMPRESSO

brochura

15,5 x 22,5 cm

416 páginas

ISBN 978-65-5505-130-8

R$ 104,90

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