HOMO
Homo faber
frágil
Homo ludens
lucro
Homo erectus
aético
Homo sapiens
áspide
Homo bellicus
homunculus
MATÉRIA AO VIVO
Terra arrasada é isso
(ele dizia). Restos humanos
à fúria ao léu ao delírio
e apenas se vê o logotipo
de um corpo e de uma bolsa
de supermercado.
No fogo lento depois do ataque
(ele dizia) um jornalista
captou o estrondo a explosão
do carro que vinha à frente
e do outro atrás, toda a família.
Foi por um triz (ele dizia).
Eu não sei o que fazer.
A terra treme quando levanto
no meu quarto sem cama (ele dizia).
Às duas da tarde já
não dá mais para voltar atrás
(ele dizia) (ele dizia).
Não quero ficar assim, é melhor
fugir da entrevista. Fecho a porta
mas no olho mágico há minas terrestres,
franco-atiradores, balas perdidas
que acenam rasantes e atingem
à luz do dia
(ele dizia).
EDITORA DO AUTOR
OU
A PROCURAÇÃO DE AUGUSTO DOS ANJOS
Eu é um Outro
sou Eu quem digo
o Outro que se vire.
Eu não sou Eu nem sou o Outro
sou qualquer verso que o Outro escreve
Eu que me resigne.
Eu sou terrível
e ponho mesmo pra derreter
Outro que resfrie.
Eu sou um livro
talvez um Outro que se lhe equipare!
Se um cai, Outro se ergue e sonha.
E Outro mais, e, por fim, veio um atleta.
O Outro é o do sonho altruístico da espécie
sou Eu mesmo.
Felipe Fortuna
Estreou com o livro o livro de poemas Ou vice-versa, em 1986. Desde então publicou outros oito livros de poemas, mais recentemente O rugido do sol (2018), de poesia visual, e Um livro de amizades (2021). Traduziu a obra integral da poeta renascentista francesa Louise Labé e o longo poema “Briggflatts”, do poeta inglês Basil Bunting, em 2016. Reuniu artigos e ensaios de crítica literária em A escola da sedução (1991), A próxima leitura (2002) e Esta poesia e mais outra (2010). É diplomata de carreira, tendo sido promovido a embaixador em 2018.