Como se interpretasse ao pé da letra a fórmula de proposição de si como artista no mundo expressa por A. Rimbaud, “EU é um outro.”, Rodrigo Suzuki Cintra inventa um personagem, certo M. Lovet, crítico de arte estreante enquanto poeta, que seria o verdadeiro autor de O Caderno de Dispositivos de M. Lovet.

Percorrendo todos os poemas do livro, esse alter ego ao mesmo tempo que permite ao autor aventuras de criação de maior liberdade, afinal, um outro de si pode ser estratégia para se permitir mergulhos de imaginação poética mais audaciosos; o artifício também possibilita explorar, nas tensões próprias dos versos que se sucedem, se interligam e se sobrepõem na construção de uma persona, os ditos e não ditos, palavras e silêncios, que conformam um retrato de poeta enquanto uma espécie particular de confessor.

Porém, a confissão que o autor parece nos sugerir é menos penitência por erros e males cometidos, um acerto de contas com o real, e sim, uma maneira própria, comum aos artistas de inquietude estética, de explorar o mundo a partir da linguagem. O autor, nesse caso, é, como facilmente se pode observar, um obcecado pela forma. E, como consequência perceptível em seu texto, um escritor que se atreve a ensaiar estilo, algo que se nota não por uma solidificação de estruturas já testadas em outras de suas obras, e sim, talvez, na forma de um exercício de detetive a investigar os limites de representação do mundo pela palavra.

Rodrigo Suzuki Cintra, assim, neste livro de poemas, apresenta os dispositivos que integram a caixa de ferramentas existencial de M. Lovet. Se dispositivos, em geral, são objetos que servem para a medição de fenômenos físicos, os dispositivos do livro, cada um em um poema individual, operam por meio de outra lógica. Ás vezes, são um tipo específico e peculiar de soneto a medir os sentimentos internos das pessoas e principalmente do personagem, por vezes, reinterpretam o sentido e função de obras de arte, e, também, podem ser dispositivos inventados para medir o improvável.

Uma bússola, dessa maneira, se habitualmente nos serve para dar orientação espacial, aqui, ressignificada, pode ser uma Bússola de Felicidade. A Roda de Bicicleta de Duchamp pode apontar, matreiramente, para o início da modernidade. E um objeto que não existe do ponto de vista factual, O Oscilador de Formatos de Nuvens, pode vir a medir as coisas que realmente importam.

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