Notícia da Síria
Um palestino da cidade de Aka
refugiado no campo de Yarmouk
em Damasco, Síria
de novo um bloqueio total de víveres
As chacinas de Bashar al-Assad
a morte fora do combate
a morte como arte
bombardeios, edifícios destruídos
um tanque, sem esteiras, como abrigo
garotos comendo grama
cruzes cravadas na boca das meninas
uma boneca entre os escombros
um míssil Tomahawk
passa perto das nuvens,
sem água, sem luz
o cara come o que acha no lixo –
Deixou Yarmouk, via Trípoli,
clandestino num cargueiro
os disparos, os saques, as máfias de Assad
Trabalha num açougue e lanchonete halal
cozinheiro, garçom, faz-tudo
em troca de cama e comida,
arranha umas palavras em português
ao meio-dia se volta para Meca –
os lojistas, o shopping
a praça, as torres da igreja
A Liga Islâmica onde reza
Barão de Ladário no limite entre o Brás e o Pari
E aqui de novo os fuzis
camelôs mortos ontem à noite na esquina
Calado, um garoto negro atravessa a rua
carregando um manequim
Notícia da Síria · Régis Bonvicino · Rodrigo Dário · Rajana Olba · Caroline de Comi
Régis Bonvicino
Nasceu em São Paulo, em 25 de fevereiro de 1955. Poeta reconhecido internacionalmente, participou de diversos eventos literários e tem versões de seus poemas traduzidas em inglês, espanhol e mandarim, entre outras línguas. Seu primeiro livro de poemas, Bicho papel (1975), foi uma autopublicação, seguida por outra, em 1978, Régis Hotel. Na década de 1980, lançou Do Grapefruit (1981), um livro com suas traduções de Yoko Ono e trabalhos de arte de Regina Silveira e Julio Plaza. Em seguida vieram Sósia da cópia (1983) e Más companhias (1987). Durante a Assembleia Constituinte, de 1987 a 1988, foi conselheiro parlamentar em Brasília. Em 1990, Bonvicino tornou-se magistrado por concurso. Ao fechar a produção da década, o livro 33 poemas (1990) apresentou a rima assonante como um dos fatores de estruturação dos poemas, e recebeu o prêmio Jabuti de 1991