Nostos
No quintal havia uma árvore de maçãs –
isso faz uns
quarenta anos – atrás,
apenas prados. Manchas
de açafrão na grama orvalhada.
Eu ficava àquela janela:
abril tardio. Primaveris
flores no quintal vizinho.
Quantas vezes, sim, aquela árvore
floresceu em meu aniversário,
no dia exato, não
antes, nem depois? Substituição
do imutável
para o mutante, para o que evolui.
Substituição da imagem
pela terra implacável.
Que sei eu deste lugar,
o papel da árvore por décadas
tomado por uma bonsai, vozes
se elevando das quadras de tênis –
Campos. Cheiro da grama alta, novo corte.
Como se espera de uma poeta lírica.
Nós olhamos para o mundo uma vez, na infância.
O resto é memória.
***
There was an apple tree in the yard –
this would have been
forty years ago — behind,
only meadows. Drifts
of crocus in the damp grass.
I stood at that window:
late April. Spring
flowers in the neighbor’s yard.
How many times, really, did the tree
flower on my birthday,
the exact day, not
before, not after? Substitution
of the immutable
for the shifting, the evolving.
Substitution of the image
for relentless earth. What
do I know of this place,
the role of the tree for decades
taken by a bonsai, voices
rising from the tennis courts –
Fields. Smell of the tall grass, new cut.
As one expects of a lyric poet.
We look at the world once, in childhood.
The rest is memory.
Luis Gustavo Cardoso
É músico e escritor. Publicou o livro de poemas “Noite Grande”, Editora Areia, 2017.