No Brasil, a Literatura Infanto Juvenil começou com Monteiro Lobato que, em 1921, ao escrever o conto “A menina do Narizinho Arrebitado”, com um estilo fluente e coloquial, criou um espaço em que a realidade e a fantasia coexistem harmoniosamente. Escreveu toda sua obra infantil entre 1921 e 1944, debatendo animadamente temas públicos e históricos da época, com linguagem original, na qual a criança é o centro da obra, comprometida com seu tempo, objetivando melhorar o Brasil por meio da indução à reflexão e à crítica. Foi Lobato também o primeiro escritor sensível à questão da ilustração nos livros infantis. Preocupou-se com o projeto gráfico e com as ilustrações do miolo de seus livros, chamando, inicialmente, Voltolino e, depois, artistas de renome para dar vida aos volumes do Sítio do pica-pau amarelo.

Gravura de Manuel Victor Filho

A LIJ passou por diversas fases. Contudo, a mudança da produção literária infantil se deu com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação, de 1961, que propôs que as escolas enfatizassem a leitura em seus currículos. A leitura foi vista como uma habilidade formadora básica e colocada como ponto de apoio de múltiplas atividades no processo ensino-aprendizagem. Com isso, ocorreu um significativo crescimento nas publicações literárias e as editoras passaram a investir nesse setor.

Mas foi Ziraldo que, em 1969, com a publicação de Flicts,[1]escrito e ilustrado por ele, deu à LIJ a dimensão igualitária entre texto e imagem. O livro infantil adquiria, então, o mesmo grau de importância entre o que dizer e como dizer para o público infantil e juvenil.

Entretanto, é na década de 1980 que as editoras reconhecem que a infância e a adolescência vivem a era da visualidade, dominada pelos meios de comunicação. Nesse momento, houve um boom da imagem, através de diferentes expressões de diversos ilustradores: caricatura, desenho clássico, pintura, colagem, fotografia, uso do computador, revelando um momento criativo na ilustração brasileira. A aquisição de todo esse arsenal deveu-se à importância dada à criança, que, primeiro, enxerga o livro pelo aspecto sensorial, depois, emocional e, por último, racional. Os especialistas voltaram a atenção para a imagem. É ela, portanto, o primeiro chamamento da criança ao mundo literário, propiciando o intercâmbio entre o movimento e a imagem e, posteriormente, entre a palavra e a imagem. A ilustração motiva a criança, além de proporcionar esclarecimentos da narrativa, iluminando-a.

Os ilustradores então iniciaram processos inovadores e criaram diversas técnicas, estimulando a percepção e fornecendo múltiplas possibilidades de o leitor sentir a obra, já que cada técnica tem uma pluralidade própria, que, bem apropriada ao texto, amplia o significado dele. Por isso, devemos selecionar a obra também pelo aspecto visual, conferindo ao ilustrador a mesma magnitude do autor. Além dos livros de papel de dimensões e tamanhos variados, há os de pano, de madeira, de plástico que atendem às mais variadas idades e necessidades, inclusive livros feitos à mão, com bordados, texturas, cores e formas bidimensionais.

[1]   ZIRALDO. Flicts. São Paulo: Círculo do Livro, 1976.

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Rebeca Gelse Rodrigues

É psicóloga, educadora, assessora literária, contadora de histórias e poeta.

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