Helenista, poeta e tradutora, Anne Carson é autora de uma obra dedicada a dissolver as fronteiras que separam pesquisa de invenção, criação de crítica, tradução de autoria.
Esta coletânea, que transita por diferentes modos de prosa e poesia, foi organizada por Sofia Nestrovski e Danilo Hora com o intuito de apresentar essa obra pelo prisma do ensaísmo. Ao longo de onze textos, escritos num arco de mais de uma década e todos eles inéditos no Brasil, Sobre aquilo em que eu mais penso oferece uma visão abrangente dos principais interesses que movem o pensamento desta que é uma das autoras mais originais da contemporaneidade.

Nestes ensaios, Anne Carson é capaz de aproximar os autores aparentemente mais distantes, por meio de um olhar investigativo extremamente sensível a elementos perenes da experiência e da cultura humanas: o tempo em Virginia Woolf e Tucídides, o sono em Homero e Elizabeth Bishop, o documental em Longino e Antonioni, o intraduzível em Francis Bacon e Joana D’Arc.

Sobre a autora:
Anne Carson nasceu no Canadá e ganha a vida dando aulas de grego antigo. Os prêmios que recebeu incluem o Lannan Award, o Pushcart Prize, o Griffin Trust Award for Excellence in Poetry, uma bolsa Guggenheim e o MacArthur “Genius” Award.

Sobre a tradutora:
Sofia Nestrovski (São Paulo, 1991) é mestre em Letras pela Universidade de São Paulo, com dissertação sobre o poeta William Wordsworth. É autora de A história invisível (Fósforo, 2022) e da história em quadrinhos Viagem em volta de uma ervilha (com Deborah Salles, Veneta, 2019). De 2017 a 2019, assinou a coluna semanal “Léxico”, do jornal digital Nexo. Dá aulas sobre Shakespeare para públicos variados. Colabora com publicações como as revistas Quatro Cinco Um e Piauí. Ao lado de Leda Cartum, escreve e conduz o podcast Vinte mil léguas: o podcast de ciências e livros (produzido pela Livraria Megafauna), cuja primeira temporada foi transformada em livro, As vinte mil léguas de Charles Darwin: o caminho até “A origem das espécies” (Fósforo, 2022). Juntas, também fizeram a curadoria do módulo brasileiro da exposição francesa Darwin, o original, para o circuito Sesc (de 2022 em diante), e a curadoria do ciclo de encontros Vinte mil léguas, no Centro de Pesquisa e Formação do Sesc-SP (com produção da Livraria Megafauna, 2022).

Texto de orelha:
Uma das características mais marcantes do estilo de Anne Carson é o fato de que ele elude as divisões de gênero mais convencionais que muitos esperam encontrar entre poesia, ensaio e narrativa. Seus versos são ensaísticos e narrativos, enquanto os ensaios contêm por vezes associações tão inesperadas que a forma da sua expressão não é a do fio linear que esperaríamos da lógica mais convencional desse gênero, mas da ordem dos cortes de sentido e da contaminação inusitada, própria desse outro modo de comunicação mais intenso, que é o da poesia.

É a partir desse efeito poético que os ensaios coligidos em Sobre aquilo em que eu mais penso se tornam únicos. Publicados entre 1997 e 2013, esses textos permitem fazer uma retrospectiva do percurso da escritora, formam uma espécie de introdução à sua obra, refletem sua natureza variada e profundamente abrangente nas suas múltiplas preocupações, expondo temas e nexos de sentido que encontramos em todos os seus livros.

Referindo-se ao mundo antigo, Carson revela-o como um mapa que nos permite ler e pensar sobre o presente. Quando escreve sobre a percepção dos antigos acerca das relações instáveis entre sujeira, desejo e o feminino, ela nos faz considerar a raiz de comportamentos que procuraram — e ainda procuram — restringir, controlar e oprimir o desejo feminino por meio da sua demonização, levando-nos, ao mesmo tempo, a confrontar a nossa relação complicada com a diferença, a alteridade e com as forças que moldam as nossas sociedades.

Falando, por exemplo, sobre a relação entre autores tão díspares quanto Safo, Marguerite Porete e Simone Weil, ou ao atentar para as ligações entre o julgamento de Joana D’Arc, os limites da linguagem e a impossibilidade da tradução — do grego antigo a Hölderlin —, Anne Carson descreve um tipo de coerência que é da ordem da revelação e que pede muitas vezes dos leitores uma habilidade de questionar e resistir ao óbvio, de entender o absurdo que é inerente às culturas em que vivemos, deslocando-o, e examinando com mais cuidado coisas que o olhar normalmente não estranharia e que por vezes parecem muito díspares entre si, de Virginia Woolf a Tucídides, de Longino a Antonioni, de Homero a Yves Klein.

O que encontramos nestes ensaios é o lado mais original do pensamento de Anne Carson — uma das escritoras mais originais do presente.

Tatiana Faia

Anne Carson
Sobre aquilo em que eu mais penso
Ensaios
Organização de Sofia Nestrovski e Danilo Hora
Tradução de Sofia Nestrovski
192 p.
14 x 21 cm
250 g.
ISBN 978-65-5525-153-1
R$ 65,00

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