Pitágoras Moderno

levantar as paredes,
enxugar os entulhos
para abolir cavernas,
tempestades e tragédias;

o homem constrói Tebas,
cemitérios e revoltas;
o Pitágoras moderno
padece da própria história.


II

nas álgebras dormem
os edifícios,
a geometria sonha
ser um dia o seco arco,
esperança de perspectivas,

oxalá fosse apenas
o riso brando de Gioconda
ou mais conhecida no algoritmo
dos roubos, achados e perdidos,
apenas como Monalisa, a renascentista;

mas um dia pela manhã
os homens acordam com suas marretas
andaimes que andam
Balbuciam
Crescem
Decolam
serrotes, autômatos,
não sabem mais para onde o sino toca.


Honorários de meu pai

o terreno ele marcou hoje
sobe o muro, meio fio,
assenta os portais,
vigas apontam para os trópicos,
quantas paredes!

segredo nas métricas
do pontalete e do lápis,
manhãs abrem janelas!

as tardes
do meio-dia
assediam a pele
da carcaça à caçamba.

não fosse este o tempo,
seriam as pirâmides, as catacumbas,
outros naipes de Versailles,
os incômodos de reinos.

não fosse este o lugar,
seriam as malocas,
as taipas,
as arengas de ágora.

mas fundada, enfim,
da pedra à casa,

transita uma família
desviando das paredes
sob telhados
que se lhes caem
fujamos de Hamurábi.

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Luis Marcio Silva

Formado em Letras/Francês pela UNESP. É escritor, tradutor e editor da Revista Piparote. Autor da dramaturgia "Dona Maria I - A louca de Portugal". Trabalha profissionalmente como webmaster.

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