Manejo o cutelo
Manejo o cutelo de se moldar em si
no submundo à mostra em artefatos
Vestal do descobrir cada cantinho maximalista
e investigar a capa rota dos vigilantes
da divina comédia humana
Turbilhão do explorar o tudo
e o nada
Erupção do absorver cada milímetro
da bomba de nêutrons do viver?
Não fujas das raias de ti
Tu és oficina de entremeios
do risco mal riscado da natureza
Raízes armazenam impropriedades
e improvisos do feito à mão
Jogas o que nem sabes?
A loteria do arriscar-se
agita ferramentas que não garantem a cartela premiada
a não ser o envolver o peão
em trincheiras de xeque-mate do mãos à obra
Quando os escaninhos da alma
abrem alas para os demônios das ditas impossibilidades impostoras,
os restos não nascidos do ontem
entram em surto no afligir-se
Ferroam-se nas paredes de coleções
e intervenções que continuam silenciosas e em metamorfoses
Nada volta!
Tudo se recria e na força das franjas
em fios do amanhecer
aquela sombra do passado lisérgico,
resíduo orgânico quase fatal,
se esmigalha como uma lança de Samurai
a adubar o ponto em branco a ser preenchido
Fala-me de conexão atemporal com selo de exclusivo
Fala-me de espaços de acolhimento
As jaulas já não nos cabem em punições de mudanças
Fala-me de duas almas
que vazam
e se encontram na lágrima que lacra o design digital
Apenas o essencial de formas plurais
Embrionário punhal
O fiorde carrega as agruras que se afastam nas correntes gélidas
Se absorve em altitude o ar revolucionário do embrionário-se
A bolsa de vento dispersa fragmentos de poeira cósmica do entranhar-se
A Lua de Sangue se infiltra entre as artérias vermelhas e desce em solavancos e golfadas até a raiz adormecida
O germinar não é suave
É necessário arrebentar a casca dura, quase cristalizada na ancestralidade do provisório
A bolsa cai
Um líquido estranho escorre e se insinua entre os tijolos da calçada sustentável
Vai de encontro ao clarão de raios que se transformam em holofotes de luzes neon no palco sem tablado do levitar o
sentir
O fosso não tem coxia nem orquestra com um trombone emudecido
e esquecido sobre um banquinho a escorar uma parede
A clarineta dedilha o que não tem fermentação em infusão de ervas
Lá, onde a visão míope não alcança mora a fome insaciável em apetites vorazes
Um ronco ensurdecedor quebra o silêncio da pradaria em que galhos deitam
sobre as rochas em cachos de pensamentos rompidos e corrompidos no estancar as crisálidas do tempo
O fascínio embola uma estranha revoada de gafanhotos a gargalhar sobre a eterna voracidade humana
As nervuras da epiderme respiram círculos e mais círculos de um assobio curto e animal
A roda do tempo galopa de encontro a escaladas de mãos que se tragam em queimaduras no vento cortante
Esvaziar-se e preencher-se
A bolsa abre-se no zíper que a divide em duas partes e cria uma terceira unidade que é umidade
O sonho é vívido como os fiordes escoceses a ronronar gaitas de fole de um vento boreal
Margareth Gomes
É poeta, escritora, fotógrafa e jornalista.