Vocês que observavam (1946)
Tradução de André Carone
Debaixo de seus olhos aconteceram assassinatos.
Como o olhar que cada um sente pelas costas
Vocês também sentiram no corpo
O olhar dos mortos.
Quantos olhos estilhaçados irão vê-los
Enquanto arrancam de seus esconderijos uma violeta?
Quantos braços erguidos em agonia
Nos ramos trançados pelo martírio
Dos carvalhos antigos?
Quanta memória brota no sangue
do poente?
Ah, os acalantos sem voz
No rufo noturno das pombas –
Se algum deles pudesse descer com as estrelas,
Mas agora quem as traz é o velho poço!
Vocês que observavam
E não ergueram a mão para o crime
Mas não varreram o pó da sua
tristeza
E que ali permanecem, onde o pó converteu-se
em luz.
André Medina Carone
Professor Adjunto do Departamento de Filosofia da UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo).