Personagens: André Fabbri; Senhora Júlia; Antônio Serra, um advogado; Anna, a empregada.
Em uma cidade provinciana.
Dias atuais.
Uma sala na casa dos Fabbri. Geral no fundo. Porta lateral à esquerda. Duas janelas, laterais à direita.
Pouco depois do pano, Júlia, que está perto da janela mais no fundo, de costas para o público, olhando para fora, tem um ato de surpresa e retrai-se; pousa sobre uma mesinha o trabalho de crochê que tinha em mãos e vai fechar a porta à esquerda, rápida mas cautelosa, depois fica esperando ao lado da geral.
Entra Antônio Serra.
JÚLIA. Aqui, já?
ANTÔNIO. Não, por favor!
JÚLIA. Não está sozinho? Onde deixou André?
ANTÔNIO. Voltei antes. Hoje de noite.
JÚLIA. Por quê?
ANTÔNIO. Arrumei uma desculpa! Por sinal, verdadeira. Tinha que estar aqui de manhã, negócios.
JÚLIA. Não me disse nada. Bem que podia me avisar.
ANTÔNIO (olha para ela e não responde).
JÚLIA. Mas o que aconteceu?
ANTÔNIO. O quê? Receio que André suspeite da gente.
JÚLIA (olhando para ele com surpresa e espanto). André? Como você ficou sabendo? Você se traiu?
ANTÔNIO. Não: nós dois nos traímos, quem sabe!
JÚLIA. (……) Aqui?
ANTÔNIO. Sim. Quando ele estava descendo. André descia as escadas à nossa frente, está lembrada? Com a mala na mão. Você estava na porta, iluminando as escadas. E eu, quando passei… Deus, como a gente é boba, às vezes!
JÚLIA. Ele nos viu?
ANTÔNIO. Tive a impressão que ele se virou, ao descer.
JÚLIA. Deus do céu…, e você veio me contar isso… Assim?
ANTÔNIO. Você não percebeu nada?
JÚLIA. Eu não, nada! Mas onde está André? Aonde ele foi?
ANTÔNIO. Me diga uma coisa: eu já estava descendo quando ele a chamou?
JÚLIA. Sim, para se despedir! Foi, então, quando ele se virou no patamar, lá embaixo?
ANTÔNIO. Não, antes, antes…
JÚLIA. Mas se ele tivesse visto a gente…
ANTÔNIO. De relance, quem sabe. Um instante!
JÚLIA. E deixou que você viesse primeiro? É possível isso? Você tem certeza que ele não partiu?
ANTÔNIO. Absoluta, disso estou certo. E antes das onze não há outra corrida da cidade para cá.
Olha para o relógio
São quase onze horas. Está para chegar, então. Enquanto isso, nessa incerteza… como que suspensos à beira de um abismo… você entende?
JÚLIA. Quieto, quieto, por caridade! Calma. Conte-me tudo. O que foi que ele fez? Quero saber tudo.
ANTÔNIO. O que você quer que lhe diga? Num estado como esse, qualquer palavra que não tenha nada a ver pode parecer uma alusão: qualquer olhar, qualquer aceno; um tom de voz, um …
JÚLIA. Calma… Calma…
ANTÔNIO. Pois é, calma, calma, vá achar a calma, agora!
Breve pausa. Senta-se um pouco mais à vontade e diz:
Foi aqui, está lembrada? Antes de irmos embora, eu e ele discutimos sobre aquele maldito assunto que tínhamos que resolver na cidade. Ele se esquentava…
JÚLIA. Sim, e daí?
ANTÔNIO. Daí, na rua, André já falava, ia andando de cabeça baixa. Eu olhei para ele, estava perturbado, de senho franzido… “Ele percebeu!”, pensei. Tremia por dentro. Mas, de repente, de um jeito simples, natural, o que ele me diz? “É triste, não é verdade, viajar de noite, … deixar a casa de noite…”
JÚLIA. Assim mesmo?
ANTÔNIO. Sim. Parecia-lhe triste também para quem ficava. Depois, uma frase… (suei frio, nessa hora!). “Despedir-se à luz de vela, numa escada…”.
JÚLIA. Ah, isso… como foi que ele disse?
ANTÔNIO. Com a mesma voz: naturalmente: eu não sei… Fazia de propósito! Falou-me das crianças que havia deixado na cama, dormindo; mas não daquele jeito amoroso, que tranquiliza – e de você.
JÚLIA. De mim?
ANTÔNIO. Sim, mas olhando para mim.
JÚLIA. O que foi que ele falou?
ANTÔNIO. Que você gosta tanto de seus filhos.
JÚLIA. Nada mais?
ANTÔNIO. No trem voltou a falar da causa em que ia trabalhar. Perguntou-me do advogado Gorri, se eu o conhecia. Ah, quis saber, entre outras coisas, se era casado (ria). Isso, por exemplo, nada tinha a ver com o assunto… Ou será que era eu que…
JÚLIA (rápida). Calado!
ANNA (aparece na porta, no fundo). Desculpe, senhora. Não está na hora de eu ir buscar as crianças?
JÚLIA. Sim… Mas espere mais um pouquinho…
ANNA. Mas não é hoje que o patrão ficou de voltar? A condução já foi buscar o pessoal, na estação.
ANTÔNIO (olhando para o relógio). Já vão dar onze horas, em instantes.
JÚLIA. A é? Já?
Para Anna:
JÚLIA. Espere mais um pouco. Vou dizer quando.
ANNA (saindo). Sim senhora. Enquanto isso, vou pondo a mesa.
Sai.
ANTONIO. Dentro de pouco ele estará aqui.
JÚLIA. E você não sabe me dizer nada… Você não conseguiu ter certeza de nada…
ANTONIO. Sim! Que ele sabe fingir muito bem, se realmente suspeita.
JÚLIA. Ele? Do jeito que ele é violento?
ANTÔNIO. Mesmo assim! Será que minha desconfiança me deixou cego até esse ponto? Será? Uma porção de vezes, entende, através do que ele ia falando, eu parecia ler alguma coisa. Logo em seguida eu dizia para mim mesmo, tranquilizando-me: “É o receio que eu tenho!” Eu o estudei, o espiei em todos os momentos: o jeito como ele olhava para mim, como ele falava comigo… Sabe que ele não costuma falar muito… no entanto, se você o tivesse ouvido nesses três dias! Muitas vezes, porém, fechava-se num longo silêncio inquieto, mas quando saía dele, toda vez, retomava o assunto da causa na qual estava trabalhando… “Será que ele estava preocupado com isso?”, perguntava-me, então, “ou será por outra coisa?”. Quem sabe ele fala agora para disfarçar a suspeita…” Uma vez até me pareceu que ele não quisesse me apertar a mão… Veja bem, ele percebeu que estendi minha mão para ele! Fingiu estar distraído: Estava bem esquisito, na verdade, no dia seguinte ao da nossa partida. Depois de dois passos, chamou-me. Pensei logo “pronto, se arrependeu.” De fato ele disse: “Desculpe, ia esquecendo de despedir-me. Tanto faz!” Outras vezes falou-me de você, da casa, mas sem nenhuma intenção aparente. Assim, como quem não quer nada… Porém eu tinha a impressão que ele estava evitando me olhar nos olhos. Muitas vezes repetia a mesma frase três, quatro vezes, sem motivo algum… como se estivesse pensando noutra coisa… E enquanto falava de outras coisas, de repente achava um jeito de entrar a falar de novo de você ou das crianças e me perguntava alguma coisa – seria de propósito? – quem sabe – será que ele tentava me pegar? – ria; mas tinha uma alegria má no olhar…
JÚLIA. E você?
ANTÔNIO. Oh, eu estava sempre de sobreaviso.
JÚLIA. Ele deve ter percebido sua desconfiança!
ANTÔNIO. Se ele já suspeitava!
JÚLIA. E teria confirmado a suspeita, E depois, mais nada?
ANTÔNIO. Sim… A primeira noite, no hotel (ele fez questão de um quarto só, com duas camas), já estávamos deitados fazia algum tempo, ele percebeu que eu não dormia… isto é… não percebeu nada: estava escuro. Ele imaginou. Veja bem; eu não me mexia, pensei nisso. Aí, de noite… no mesmo quarto com ele, e com a suspeita de que ele soubesse… pensei nisso. Eu ficava com os olhos bem abertos, no escuro, à espera… sei lá! Para me defender… De repente, no meio do silêncio, ouço ele falar exatamente essas palavras: “Você não dorme.”
JÚLIA. E você?
ANTÔNIO. Eu, nada. Não respondi. Fingi estar dormindo. Daí a pouco ele torna a falar: “Você não dorme.” Aí eu falei: “Você disse alguma coisa?” E ele: “Sim, queria saber se estava dormindo.” Mas ele não perguntava se eu não estava dormindo. Ele proferia a frase com a certeza de que eu não dormia, de que eu não podia dormir, entende? Ou, pelo menos, foi isso que me pareceu.
JÚLIA. Nada mais?
ANTÔNIO. Nada mais. Não fechei os olhos por duas noites seguidas.
JÚLIA. Depois, com você, sempre a mesma coisa?
ANTÔNIO. Sim, a mesma.
JÚLIA. Todos esses fingimentos… Ele! Se ele tivesse visto a gente…
ANTÔNIO. No entanto, ao descer, ele se virou…
JÚLIA. Mas não deve ter percebido nada! É possível?
ANTÔNIO. Na dúvida…
JÚLIA. Na dúvida, também, você não sabe como ele é! Ser capaz de dominar-se desse jeito, ele, de não deixar escapar nada. Quem, ele? Nada?! Mesmo admitindo que ele tenha nos visto, quando você passou e se inclinou até mim… Caso tivesse surgindo nele a mínima suspeita… que você me tivesse beijado… ora, ele teria sabido… com certeza! Claro!… pense como teríamos ficado nós?! Não, ouça o que eu digo, não: não é possível! Você ficou com medo, só isso. André não tem motivo algum para suspeitar de nós. Você sempre me tratou de um jeito carinhoso perto dele.
ANTÔNIO. Sim, mas a suspeita pode nascer de um momento para o outro. E aí, você entende? Mil outros fatos quase desapercebidos, sem importância alguma, de repente assumem outro colorido, cada aceno gratuito torna-se uma prova, e a dúvida, certeza, é disso que tenho medo.
JÚLIA. Precisamos ser cautelosos…
ANTÔNIO. Agora? Pois é o que sempre disse para você!
JÚLIA. Você está me jogando na cara, agora?
ANTÔNIO. Não jogo nada. Por acaso não falei mil vezes para você? Cuidado… E você…
JÚLIA. Sim… Sim…
ANTÔNIO. Não sei que sentido tinha, deixar-se descobrir assim… por nada… por uma imprudência boba… como a de três dias atrás… foi você que…
JÚLIA. Eu, sempre eu…
ANTÔNIO. Se não fosse por causa sua…
JÚLIA. Sim… o medo.
ANTÔNIO. Pois, você acha que dá para ficar numa boa, eu e você? Você, especialmente!
Pausa. Ele anda pela sala. Depois, parando:
ANTÔNIO. O medo! Pois você acha que não penso em você, também! O medo… Se você acha isso…
Pausa. Volta a andar pela sala.
ANTÔNIO. Fomos confiantes demais, é isso! E agora, todas as nossas imprudências, todas as nossas loucuras me saltam aos olhos e eu me pergunto como é que ele não suspeitou de nada, até agora! Como não? Fazer amor aqui… sob os olhos dele, pode-se dizer… aproveitando-nos de tudo, da mínima ocasião… quando ele se afastava só um pouquinho; mas também com ele aqui, com os gestos, com os olhos… Loucos!
JULIA (depois de uma longa pausa). O que é, você me culpa, agora? É natural. Enganei um homem que confiava em mim, mais do que em si mesmo… Sim, a culpa é minha, realmente, minha, principalmente minha…
ANTONIO (Olha para ela, para, depois, retomando a andar, diz, brusco): Não queria dizer isso.
JÚLIA. Sim, eu é que sei! E veja bem, pode acrescentar também que eu tinha fugido de casa com ele e que fui eu quem o empurrou, quase, a fugir, eu, porque o amava, e depois o traí com você! É justo que você me condene, agora! É mais do que justo!
Chegando-se a ele, como que com febre:
Só que eu, ouça bem, eu havia fugido com ele porque o amava, não para encontrar aqui toda essa calmaria… todo esse não ter o que fazer numa nova casa… Eu tinha minha casa; eu não teria fugido com ele… Mas ele, sabe-se como é, tinha que se desculpar aos olhos dos outros pela leviandade cometida, ele, homem sério… pois sim! A loucura fora feita e, agora, tinha que consertá-la. Consertá-la e logo! Como? Entregando-se totalmente ao trabalho, refazendo para mim uma casa rica, cheia de lazer… Assim, trabalhou feito um carregador. Só pensou em trabalhar, sempre, só querendo de mim admiração por sua operosidade, por sua honestidade… e minha gratidão, também. Claro, pois eu teria podido me dar pior. Era um homem honesto, ele, e teria me tornado rica, ele, como antes, mais do que antes… Para mim, isso, para mim que o esperava cada noite impaciente, feliz com sua volta. Chegava cansado, desfeito, contente com sua jornada de trabalho, e eu me cansei de ter que arrastar, quase, esse homem a amar-me, de qualquer jeito, a ter que responder de qualquer jeito a meu amor… A consideração, a confiança, a amizade do marido parecem insultos à natureza em certos momentos… E você se aproveitou disso, você que agora está me atirando à cara o amor e a traição, agora que o perigo chegou e você está com medo, estou vendo, está com medo! Mas o que vai perder você? Nada! Eu, ao contrário…
Ela cobre seu rosto com as mãos
ANTÔNIO (depois de uma breve pausa). É a mim que você pede calma… Mas se eu tenho medo… – é por você… por seus filhos.
JÚLIA (exaltada, com um grito). Não, não se atreva a falar deles!
Depois, caindo em lágrimas:
Pobres inocentes!
ANTÔNIO. Agora você chora, eu vou indo…
JÚLIA. Eh, agora, sim! Agora você não tem mais nada a fazer aqui.
ANTÔNIO (rebatendo, grave). Você é injusta! Amei você como você amou a mim – sabe disso! – Pedi para você ser prudente… Fiz mal? Mais por você do que por mim. Sim, porque eu, no caso, não teria nada a perder – foi você quem disse isso.
Breve pausa, depois, marcando as palavras:
ANTÔNIO. Jamais culpei você, nem nunca lhe joguei nada na cara. Não tenho o direito…
Passa a mão no rosto e depois mudando de tom de voz e de atitude:
ANTÔNIO. Vamos, vamos. Recomponha-se… André não saberá de nada… Você acha assim e assim será… A mim também, agora, parece impossível que ele tenha podido se segurar até este ponto. Não deve ter percebido nada… E então… vamos, vamos… nada terminou… Nós seremos…
JÚLIA. Não, não, não dá mais. Como você ia querer, agora… Não, melhor, melhor terminar.
ANTÔNIO. Como achar melhor.
JÚLIA. Aí está seu amor.
ANTÔNIO. Você quer me deixar louco?
JÚLIA. Não, é melhor mesmo a gente terminar, desde já; qualquer coisa que aconteça, entre nós tudo acabou. Fique sabendo, e seria até melhor que ele soubesse de tudo.
ANTÔNIO. Está louca?
JÚLIA. Melhor, sim, melhor. Que espécie de vida tenho agora? Você pode imaginar? Já não tenho o direito de amar mais ninguém, eu! Nem meus filhos, sequer! Se me abaixo para beijá-los, parece que a sombra de minha culpa pode manchar suas testas puras! Não… não. Vai me mandar embora? Iria eu, por minha conta, se ele não mandasse…
ANTÔNIO. Agora, já não está nem mais raciocinando.
JÚLIA. É verdade! Sempre achei. É verdade… é demasiado. Não me resta mais nada, agora!
Esforçando-se para se recompor:
JÚLIA. Ah! Vá, vá, agora: que ele não o encontre aqui.
ANTÔNIO. Tenho que ir? Deixar você? Eu vim especialmente… Não é melhor se eu…
JÚLIA. Não. Aqui é que ele não deve encontrá-lo. Mas volte, quando ele estiver. Fale comigo, na frente dele. Dirija-me a palavra muitas vezes. Eu vou responder a você.
ANTONIO. Sim, sim.
JÚLIA. Depressa. E se…
ANTÔNIO. E se…?
JÚLIA. Nada! Tanto…
ANTÔNIO. O quê?
JÚLIA. Nada, nada… Adeus.
ANTÔNIO. Julia!
JÚLIA. Vai embora!
ANTÔNIO. Até breve!
Antônio sai pela geral.
JÚLIA (fica no meio da sala, com os olhos como que fixos num pensamento cruel; depois levanta a cabeça com um suspiro, sinistramente, de cansaço desolado e comprime com força as mãos no rosto sem conseguir, porém, afastar o pensamento que a domina. Continua andando inquieta pela sala, depois para diante de um espelho, no fundo, perto da geral. É distraída por sua imagem refletida no espelho e se afasta. Senta-se, então, à mesinha – à direita, na frente, e dobra-se sobre ela com a cabeça escondida entre os braços – fica um pouco assim e depois ergue a cabeça, pensativa). Ele não teria subido a escada de novo? Com uma desculpa… Teria me encontrado ali… atrás da janela…a olhar…
Pausa
Se não foi por medo… Ele morre de medo!
(Sacode a cabeça, com uma expressão de desprezo e de enjoo, — outra pausa – levanta-se, anda pela sala, volta para perto da mesinha, está indecisa, depois toca duas vezes, com força, a campainha.)
ANNA (entrando pela geral). A senhora chamou?
JÚLIA (ainda pensativa). Sim, tudo tem que estar pronto, por favor, Anna, cuide disso.
ANNA. Está tudo pronto, senhora.
JÚLIA (ainda pensativa, depois de uma pausa). A mesa?
ANNA. Já está posta.
JÚLIA. O quarto do senhor?
ANNA. Em ordem… tudo…
JÚLIA. Então, ouça. Vá buscar as crianças.
ANNA. Irei já!
Vai saindo
JÚLIA. Anna!
ANNA. A senhora deseja algo mais?
JÚLIA (indecisa; depois de pensar um pouco). Deixa elas ficarem mais um pouco. Irá buscá-las depois que o patrão chegar.
ANNA. Melhor assim. Se quiser que eu desça para esperar a viatura de volta da estação para subir com a mala…
JÚLIA. Não, … espere, espere…
ANNA. As crianças estão tão contentes com a volta do pai, hoje. Prometeu uma porção de presentes para elas. Para Carlucho um cavalinho alto assim… Mas Ninetto quer um, também. De manhã brigavam, a caminho da casa da avó. “Papai gosta mais de mim do que de você!” dizia Carlucho.” E a mamãe gosta mais de mim”! Dizia Ninetto.
JÚLIA. Que amor!
ANNA. Mal consegue balbuciar as palavras!
JÚLIA. Vá buscá-los!
ANNA (escutando). Espere… a viatura…
vai à janela.
A viatura chegou… vou descer até o portão?
JÚLIA. Sim… sim. Vá…
ANNA (sai).
JÚLIA (fica andando pela sala, presa de grande inquietação. Pára para escutar, vai até a mesinha, pega quase que maquinalmente o trabalho de crochê e diz): Vou ficar sabendo já.
Tenta ouvir de novo, depois retoma o crochê febrilmente, mas, quase sem se dar conta, para de repente e escuta.
ANNA (de dentro). Aqui vem o patrão! Entra com uma mala que põe numa cadeira perto da geral: o patrão!
ANDRÉ (entra).
JÚLIA (estendendo a mão para ele). Estava esperando você.
A Anna
Pode buscar as crianças.
ANNA (hesitando). O patrão falou…
ANDRÉ. Estão com a mamãe? Deixe-os ficar. Quero abrir a mala primeiro, assim encontrarão os presentes.
JÚLIA. Como quiser.
ANNA (sai)
ANDRÉ. Estou tão cansado. Minha cabeça dói.
JÚLIA. Ficaram abertas as janelas, na viatura?
ANDRÉ. Não. Tudo fechado. Mas… o ruído…não consegui fechar os olhos.
JÚLIA. Estavam em muitos?
ANDRÉ. Sim, muitos.
JÚLIA. E meu travesseirinho de plumas?
ANDRÉ. Ele não está aqui? Devo tê-lo deixado no trem. Sem dúvidas… Que pena! Fazer o quê… Basta… e você, ficou bem? As crianças?
JÚLIA (voltando para pegar o trabalho). Sim, todos bem.
ANDRÉ. E… você disse que estava me esperando, disse? Foi Serra quem lhe contou?
JÚLIA. Sim, passou há pouco por aqui. Você não me escreveu nem uma vez.
ANDRÉ. Verdade. Mas por três dias… Serra voltou ontem de noite…
JÚLIA. Ele me falou. Virá ver você.
ANDRÉ. Ah, virá? Bem… fez bem a mandar as crianças na avó. Ela gosta disso. Você não foi para lá?
JÚLIA. Não. Sabe que só vou lá com você.
ANDRÉ. Sim, mas agora já…
JÚLIA. (para mudar de assunto). Sua causa?
ANDRÉ. Serra não falou com você disso?
JÚLIA. Sim, me disse alguma coisa… mas ficou aqui tão pouco…
ANDRÉ. Oh, a questão parece bem encaminhada… ao menos… Porém, nosso senhor Antônio me impressionou, lá… Oh… fique sabendo! O advogado Gorri falou-me dele e fez uma porção de elogios! Sim, sim, tem engenho o sujeito… Conduziu a questão da melhor maneira… Ah, quanto a isso, da melhor…
Interrompe-se e retoma com outro tom:
ANDRÉ. E se tudo sair do jeito que eu espero, como deveria, por sinal… adivinha no que estou pensando? Dito e feito, vou liquidar tudo, veja só! Sem pensar duas vezes… pst! Xô! Ah, não quero mais dor de cabeça, nada mais trabalho! Arrumo meus trapos e lá vou eu! Para a cidade! O que você diz? Iremos morar na cidade. O que você acha disso?
JÚLIA. Na cidade?
ANDRÉ. Qual é? Desagrada-lhe…
JÚLIA. Não.
ANDRÉ. Ah! Na cidade, na cidade! Eu também quero ter a vida de quem tem dinheiro, agora! Gozar a vida!
JÚLIA. Como você chegou a essa decisão?
ANDRÉ. Resolução ainda não… Se eu conseguir… Mas ouça, oh! Aqui não ficarei, com certeza. Ah, estou cansado! Depois daquilo que fizeram comigo! E depois, diga a verdade, para você também.
JÚLIA. Oh, para mim, você sabe, em qualquer lugar…
ANDRÉ. Ora, deixe disso, agora! Teria algumas distrações que o campo não pode lhe dar… Você também precisa. Nem que seja pelo ar da cidade… o ruído. Além do que, aqui está minha mãe, e você com ela…
JÚLIA. Espero que não seja por isso que você quer mudar.
Não. Não, não digo que seja por isso.
JÚLIA. Você sabe muito bem que é ela, sua mãe, que tem para comigo…
ANDRÉ. Sei disso, sei, e esta poderia ser uma razão, também. Mas há outras.
Breve pausa.
ANDRÉ. Sabe, na cidade encontrei duas vezes seus irmãos e as duas vezes…
JÚLIA. O que eles fizeram?
ANDRÉ. A mim? Nada! O que você quer que façam? Gostaria de ver que ainda por cima… Nada. Mas, para variar, aparentaram não me conhecer… Claro!
Cantarolando:
ANDRÉ. Não adianta! Não conseguem engolir! – Tão cheios de si! Mas a raiva também, agora. Sim, porque agora não sou mais o desarvorado de antes, entende? Assim eles não têm a satisfação de vê-la aflita, arrependida de haver deixado sua casa para vir comigo… não conseguem engolir! E eu, veja só, vou me estabelecer na cidade, eles vão ver! Assim, eles vão gozar, eles vão ver só! Serra também viria de bom grado, eu acho… O que ele faz aqui?
JÚLIA. Os negócios dele.
ANDRÉ. Grandes negócios! Eles são feitos na cidade… Se a gente for embora, aqui não vai haver mais ninguém; uma manada de gado! Ah, a propósito: será necessário pensar numa recompensa, agora, para ele. É verdade que fiz uma porção de favores a ele, mas isso não conta.
JÚLIA. Pode ser que conte, para ele.
ANDRÉ. Nada disso. Negócios são negócios, favores não importam: a amizade se compra! Por sinal, recompensa ele merece, por sinal. Se você soubesse quais razões conseguiu encontrar para apoiar minhas pretensões: aliás, muito justas! De repente, aqui me negam também o mérito de haver beneficiado o lugar… Mas se a gratidão… chega! Não digo que o enriqueci – bem que poderia me gabar disso – mas me reconhecer o mérito de havê-lo livrado da peste, da malária… Será que nem isso?
Júlia. Eles não entendem.
ANDRÉ. Claro! Quando se trata de ser grato a alguém, nunca se entende – O que me deram era um pântano, você sabe muito bem como era, quando viemos para cá, você deve lembrar… fugindo da cidade… Só havia aqui uns juncos verdes que até as ovelhas recusavam. Pois eu chego, arrisco aqui todas as minhas posses, quer dizer, as suas, para semear, adubar, bonificar e tornar o campo o mais fértil de toda a zona, e pronto! Vence o contrato de aluguel e não só impugnam o que eu mereço pelo beneficiamento, mas me negam até honra de haver feito renascer o município… “O senhor enriqueceu!” Muito obrigado! Mas quem se arriscou? Ainda por cima, veja só, tínhamos que empobrecer, segundo eles… Ora bolas! E depois, o dinheiro era o seu.
JÚLIA. O que você vai buscar, agora?
ANDRÉ. Não. Era seu. E se enriqueci, o mérito é seu.
JÚLIA. Mas eu não trabalho.
ANDRÉ. Trabalhei, isso sim, e coragem, tive bastante. No trem, passando por aqui, ficava olhando – todos admiram minha obra agora. Mas naquela época achavam que eu era louco. Um pântano! Sim, para vocês. Mas para mim, a Califórnia! Tinha sido minha ideia fixa, desde rapaz. E pensar que antes aqui morria-se de malária feito moscas. No trem, no compartimento, conosco, estava o velho Mantegna, você o conhece? Perdeu duas filhas. Contava o acontecido chorando. A mulher dele também morreu de malária.
JÚLIA (sempre trabalhando no crochê). Ela já não estava mais com ele.
ANDRÉ. Claro! Você queria que continuassem juntos depois do que…
Dá risada.
ANDRÉ. Mas ele a chorava mais do que as filhas. E nós todos ríamos, é natural. – Agora já está meio que caduco, coitado! Na vila zombam dele por isso. Você ficou sabendo que deram umas pauladas nele?
JÚLIA. É verdade?
ANDRÉ. Sim, pois é. Não agora… Foi o amante da mulher que o espancou. Ele mesmo contou pra gente, no trem, tranquilamente, tintim por tintim. – Você pode imaginar nossas risadas. – “Ponham-se no meu lugar!” dizia ele. Depois dirigiu-se ao senhor Sportini (ele também estava lá, ao meu lado, … o da alfândega, lembra?) “Ah, senhor Francisco”, dizia ele, “só o senhor aqui pode ter pena de mim!” Nem imagina o que aconteceu! Por sorte, entre nós havia um moço, daqueles, sabe? Última moda… conhecedor do mundo… Não está me escutando?
JÚLIA. Sim, queria lhe pedir…
ANDRÉ. Que a gente vá para lá? Já está na mesa? Vamos já. Mas ouça: esse moço tomou a palavra: “Surpreender?” diz ele, “Meu Deus, que coisa pré-histórica!” Qual é a graça disso? O senhor aqui se deixou espancar. A viagem repentina de sempre… a corrida errada de sempre… expedientizinhos de maridos velhos que querem que se acredite que perderam o horário da estrada de ferro quando, na verdade, perderam é a cabeça… Não há psi-co-lo-gia nisso! Explicou-me: existe a suspeita e querem a prova? Que necessidade há do fato? Fato esse, além do mais, ridículo. Incomodar duas pessoas que estão tão felizes juntas…” – Engraçado – você não acha? – “Se eu”, dizia o rapaz, “se eu tivesse mulher, Deus me livre disso! e suspeitasse dela” (tinha todo o jeito de estar ridicularizando o Mantegna) “eu daria a impressão de não haver percebido absolutamente nada. Não procuraria prova nenhuma, não perturbaria a mulher prematuramente. Só procuraria fazer com que – e a habilidade está nisso! – com que ela, ela todinha, se tornasse à minha frente uma prova viva, a mais gritante, até o momento oportuno.” É interessante…
Aproxima-se mais dela, com a cadeira
ANDRÉ. Ouça o que dizia o rapaz – “Chegando o momento oportuno, eu me dirigiria a ela, convidaria ela para sentar e depois, como quem não quer nada, como que por dizer alguma coisa, contaria para ela, com muito jeito, uma história desses amores… interessantes, mas uma história “citadina”, entende? e que tivesse algo a ver com a história dela, a culpa dela, apertando-a em círculos mais sutis, cada vez mais sutis… até que, num certo momento, (pega do cesto do trabalho de crochê um espelhinho e o coloca na frente da mulher) põe na frente da mulher um espelhinho e pergunta a ela, com delicadeza: “Minha querida, por que ficou tão pálida?”
Começa a rir de modo estranho.
Ah, ah, ah… é muito engraçado! “Veja bem, veja bem, eu sei de tudo…”
JÚLIA (afasta o espelhinho com a mão, sorrindo de leve e se levanta afetando indiferença). Bobagens!
ANDRÉ (estranho). Cansei você, diga a verdade. Não está interessada?
JÚLIA. Como você quer que me interesse… a mulher do Mantegna?
Vai saindo.
ANDRÉ (estranho). E então Serra…
JÚLIA (vira-se de leve, muito pálida, olhando-o do alto do ombro).
ANDRÉ (dominando-se e mudando de tom). Sim, direi a ele: ouça, meu caro, com você, realmente, não sei como devo me portar… sem cerimônia, somos amigos… então, diga-me o que devo lhe dar e eu lhe darei. – Eh, eh…, o que acha disso?
JÚLIA. Faça o que achar melhor.
ANDRÉ. Só receio que dizendo isso a ele…
JÚLIA. Que ele recuse?
ANDRÉ (levantando-se, com suspiro). Pois é, a consciência, querida, tem seus escrúpulos curiosos! Por haver me roubado a honra, irá recusar o dinheiro.
JÚLIA. O que está dizendo?
ANDRÉ (franzindo o cenho, mas ainda se dominando e quase rindo). Por acaso não é verdade?
JÚLIA. Está louco?
ANDRÉ Não é verdade? Veja só, agora o nega.
JÚLIA. Está louco?
ANDRÉ. Louco, eu? Hein, não é verdade?
JÚLIA. Você pensa em assustar-me? Como pode dizer isso? Quem lhe deu o direito de insultar-me assim?
ANDRÉ (agarrando-a). Eu a insulto? Mas se você está tremendo!
JÚLIA. Não é verdade! Que provas…
ANDRÉ. Provas! Direito! Por acaso sou um tolo? Um louco? E você, uma inocente… uma vítima. Mas se eu vi: eu, eu entende? Eu, com esses olhos, me dei conta…
JÚLIA. Não é verdade! Você está louco.
ANDRÉ. Ah, é? O bobo da vez? Pois eu vi, estou dizendo, com esses olhos e você tem coragem de negar? Desavergonhada! Se você tremeu, com minhas palavras… como ele… como ele… lá… três dias o torturei! No final ele fugiu… não aguentou mais… veio aqui contar para você, é verdade? Veio contar para você? Eu, deixei-o vir primeiro! Por que você não foi embora com ele? Negue, negue isso, se puder?
JÚLIA. André… André…
ANDRÉ. Já não nega mais nada, está vendo?
JÚLIA. Por piedade!
ANDRÉ. Piedade?
JÚLIA. Mate-me! Faça comigo o que quiser.
ANDRÉ (Agarra-a a de novo com fúria). Bem que você o merecia, sua infame! Bem que o merecia! Sim, sim… não sei o que me retém… Mas não, espere.
Solta-a
Não quero sujar minhas mãos… por meus filhos! Não quero sujá-las. Você pensou neles? Nem neles? Sua imprestável! Ordinária!
Agarra-a de novo empurrando-a com violência para a geral:
Vá embora! Fora! Fora da minha casa! Fora! Já! Fora!
JÚLIA (com desespero). Para onde quer que eu vá?
ANDRÉ. É a mim que você pergunta? Para a casa de seu amante! Você não traiu seus irmãos também? Para vir comigo, para fugir comigo… comigo! Só que agora batem a porta na sua cara, e fazem eles muito bem… Vá ter com seu amante… Vou dar tudo para você, tudo… Você irá com seu dinheiro! Você pensa que eu queira ficar com seu dinheiro? Sujaria minhas mãos, agora! Recomeçarei do começo, pelos meus filhos. Vá embora!
JÚLIA. André, antes mate-me! Não fale assim comigo! Peço-lhe que me perdoe, por eles. Não tem terei coragem de olhar você no rosto, prometo-lhe… Por eles…
ANDRÉ. Não.
JÚLIA. Deixe-me ficar em casa, por eles…
ANDRÉ. Não!
JÚLIA. Serei sua escrava!
ANDRÉ. Não!
ANDRÉ. Imploro-o…
ANDRÉ. Não, não, não. Nunca mais vai vê-los.
JÚLIA. Faça de mim o que quiser…
ANDRÉ. Não!
JÚLIA. Mas são meus filhos, também!
ANDRÉ. É agora que você pensa nisso? Agora! Ela pensa nisso agora!
JÚLIA. Fui uma louca…
ANDRÉ. Eu também!
JÚLIA. Fui louca, minha culpa não tem desculpa, eu sei! A culpa é só minha… Mas foi um momento de loucura, acredite. Eu amava você, sim. Senti-me posta de lado por você… Não acuso ninguém, só a mim… Sei, sei… eu tinha fugido com você… Mas é porque o amava…
ANDRÉ. Para me trair! Diga que eu fui o primeiro que passou na sua frente: teria feito a mesma coisa com qualquer um…
JÚLIA. Não! Mas eu não quero me desculpar…
ANDRÉ. Vá embora, então!
JÚLIA. Espere! Não sei mais o que dizer a você… Sou culpada perante você, perante meus filhos… sim… sim… é verdade… Mas, se não posso fazer mais nada por você, deixe ao menos que eu expie para meus filhos a culpa que tenho para com eles… Isso você não pode me negar… Você não pode me arrancar deles…
ANDRÉ. Ah! Eu é que a arranco – Vamos! Quer que eu lhe dê a chance de me confundir com suas palavras? Não irá mais vê-los!
JÚLIA. Não! Não! André! Peço-lhe pela última vez, esconjuro-lhe, veja… sim.
Ajoelha-se na frente dele.
ANDRÉ (violento). Não! Já disse que não! Basta! Não quero mais ouvir você, não quero mais vê-la. Os filhos são só meus e ficam comigo. Você, vá embora!
JÚLIA. Então… tanto… mate-me!
ANDRÉ (sacudindo os ombros, com indiferença). Mate-se.
Vai até a janela e olha para fora.
JÚLIA (fica como que esmagada por uma condenação: reclina a cabeça lentamente, os olhos enchem-se de lágrimas e rompe em soluços).
ANDRÉ (Olha um momento para ele, depois volta a olhar pela janela, sem mover-se).
JÚLIA (Para aos poucos de chorar numa breve pausa, depois levanta-se, muito pálida e com o peito sacudido por soluços, aproxima-se do marido). Então, escute…
ANDRÉ (vira-se de novo para olhá-la).
JÚLIA (cai novamente em pranto).
ANDRÉ (dando as contas). Cenas!
JÚLIA. Não, ouça. Se não devo mais vê-los… nem por uma última vez… agora… Suplico-lhe! Suplico-lhe!
ANDRÉ. Não, não, já lhe disse que não!
JÚLIA. Uma última vez… o tempo de beijá-los… de apertá-los em meus braços… e depois, chega!
ANDRÉ. Não!
JÚLIA. Ah, como você é cruel! Então… se é assim… ao menos prometa-me que… quando estiverem aqui… e depois também… nuca irá dizer a eles… mal de mim… prometa-me! Eles não devem saber nunca nada… E quando…
ANDRÉ (com voz estranha, virando-se para Júlia e convidando-a com o gesto). Venha, venha aqui, aqui…
JÚLIA (hesitando, aterrorizado). Por quê?
Depois, serenando-se:
JÚLIA. Ah! São eles!
ANDRÉ (agarrando-a empurrando-a para que olhe para fora). Não, não… repare… olhe… lá… está vendo ele?
JÚLIA (segurando-o com força). Apoiando-se nele. André! André! Por piedade!
ANDRÉ (emburrando-a para a porta à direita). Vá para lá. Por quem tem medo?
JÚLIA (Segurando-o com força). Esconjuro-lhe, André!
ANDRÉ (idem). Para lá! Para lá! Por quem tem medo… por ele?
JÚLIA (idem). Não! Não! Ele é um patife…
ANDRÉ (idem). Espere por ele lá… ele é como você!
JÚLIA (com as costas encostadas na porta). Não! Não!… Adeus, André! Adeus.
Dá-lhe um rápido beijo no rosto e se precipita para dentro, fechando a porta.
ANDRÉ (fica perplexo, meio perdido, atrás da porta, com as mãos no rosto. Nesse meio tempo entra Serra que, vendo André naquela pose, fica hesitando na soleira. Ouve-se, vindo de dentro, um tiro de revólver).
ANTÔNIO (dá um grito).
ANDRÉ (virando-se de repente). Você a matou!
Aurora Fornoni Bernardini
Professora titular da USP no Departamento de Línguas Orientais. Trabalha com Literatura Comparada e Tradução ( prosa e poesia, inglês, russo e italiano). Tem-se dedicado à ficção, com pseudônimo.
Publicou primeiramente um conto na revista Escrita em 1977. A este seguiram-se outros nas revistas Polímica, Fiera (it.), Teyuí, Caracol Noturno, Caracol viola, Cult ( onde publicou também poemas), Revista E , em jornais como A Folha de S. Paulo e em revistas eletrônicas como Mnemozyne e Qorpus. Uma reunião de seus contos saiu pela Editora 34, em 1998, com o título de Surtos Urbanos.
Seu primeiro romance foi publicado pela Editora Perspectiva em 1980, com o título de Deformação. Recebeu o II lugar no concurso “ Crônica e Literatura: Carlos Heitor Cony” de Uberlândia, em 2006. Seu poema “A cidade” foi escolhido e publicado na Antologia Poética Poetize de 2013 e seu conto “ A viagem” foi premiado e publicado em 2013 na coletânea Memória – entre a prosa e a poesia.Atualmente decidiu publicar uma série de escritos que estavam guardados. Transcontos ( Ed. Reformatório) e Borboletas ( ed. Voz de Mulher)são dois deles.