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Cais noturno – Por Flávio Viegas Amoreira

Tudo é cais e partida
habita o hiato
se tem olhar do mesmo menino descobrindo o mar

andanças entre conchas azuis
a esmo
quando todo lugar é lembrança
ao olhar faminto
sob o mesmo céu
sem presença
nos antros
mirantes
ancoradouros
depois das dunas
nuas de tempo
rodeadas de ondas sem começo
ainda assim onde tu aras o sonho
aí é o dia
aí o vento de ancorar esperanças
recarregar teu odre
levado das caravelas
ao sabor inabalável das vagas
guiadas pelo fogo
que com outro fogo cessa
já que só de um amor o mundo recomeça

a delicada fímbria
sem notar-lhe a eira
ou réplica das serras
fundeadas das ondas
o poente tem a crista
tal a côdea do melhor pão

a recolher nacos dourados
dos farelos da alba
rompidos devagar devagar …
revelando o que não sabido

tudo suspira
tudo pede
sem medida
tudo clama
exalando o oco dum repto
concha por concha um oráculo
tudo auspício sob halo de temor
que um dia a água rebele
o que era terra sua
mas tem pé ainda para que se pense
em futuro próximo onde mais caminhe
mesmo que a morte dos corais se anuncie
perdida a simbiose mais visada
por quê então teima em pensar
se a natureza ruge?
será a vez possível d’alguma metanóia?
nem mais outras utopias!
agora uma doca, um arremedo de porto

alguma serventia ao hermeneuta?
até brotos novos surjam?

olhando o todo desde o fim
restando algo capaz de abnegação
sem verbo
largo
molhe
tudo é cais
emanação

Picture of Flávio Viegas Amoreira

Flávio Viegas Amoreira

escritor, poeta e jornalista, nasceu em Santos, em 1965, mora em São Paulo atuando como agitador cultural pela capital paulista, Litoral e Rio de Janeiro. Considerado um dos mais inquietos escritores da "Novíssima Literatura Brasileira", já lançou 12 livros entre contos, poesia e romance: Maralto (2002); A Biblioteca Submergida (2003); Contogramas (2004); Escorbuto, Cantos da Costa (2005), Edoardo, o Ele de Nós (2007), todos editados pela 7 Letras Editora - Rio de Janeiro; além de livros publicados por editoras paulistas, antologias internacionais até ser incluído na denominada "Geração Zero Zero", reunião de contistas considerados mais representativos da primeira década do século XXI no Brasil, antologia organizada pelo prestigiado crítico literário Luiz Brás e editado pela "Língua Geral", em 2011. O escritor é crítico de cinema, curador de artes plásticas e colaborador com crônicas e ensaios para jornais brasileiros e sites, revistas literárias e publicações estrangeiras. Ligado à música e às artes visuais, já teve vários textos encenados em monólogos e adaptações teatrais. Tem constante atividade nos meios digitais, com importante atuação em sites, blogs e redes sociais com literatura digital e criação online de textos. Contato: [email protected]

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