Editora Tabla lança Bagdá noir, terceiro livro da série com histórias soturnas das principais cidades do mundo árabe

Está chegando ao Brasil a coletânea de contos Bagdá noir, da série noir da Akashic Books. Após os sucessos de Beirute noir (org. Iman Humaydan) e Marraquexe noir (org. Yassin Adnan), a série pousa no Iraque com a antologia organizada por Samuel Shimon. “Bagdá noir”, que tem como protagonista uma das cidades mais devastadas pela guerra nas últimas décadas, recebeu a primorosa tradução direta do árabe de Jemima Alves, que já traduziu, na Tabla, poemas da coletânea Gaza, terra da poesia e o romance Gente, isso é Londres, da libanesa Hanan Al-Shaykh.

A ideia do projeto é reunir escritores locais que conhecem a fundo a cidade onde vivem, e propor a cada um que escreva um conto noir inédito, localizado em uma área específica da sua cidade. Porém, em Bagdá noir, você vai encontrar uma cidade um pouco diferente. De um lado, a Bagdá que ainda busca superar os traumas de uma ditadura opressora e violenta como a de Saddam Hussein, de outro, um país que foi completamente devastado e destruído pela invasão e ocupação americana em 2003. 

Na introdução do livro, o organizador Samuel Shimon comenta que “no seu conjunto, as histórias de Bagdá noir testemunham a duradoura resiliência do espírito iraquiano em meio aos desdobramentos da vida real e de um estado de desespero contínuo, do qual a literatura noir oferece apenas uma ideia.”

Perante uma cidade composta por uma algaravia de línguas como árabe, curdo, turcomeno, assírio, armênio, siríaco, persa e uma diversidade de povos e etnias, os contos traduzem uma espécie de “ethos iraquiano” capturando sua pluralidade de vozes, ainda que diante das situações mais adversas. 

“As contribuições deste livro também se sustentam como contos independentes, nos quais as tradições riquíssimas de interculturalidade transcendem a realidade política imediata — mesmo que nela se baseiem”, completa Shimon.

Alguns dos autores presentes na antologia são bastante conhecidos e premiados mundo afora, como é o caso de Sinan Antoon, autor de Morrer em Bagdá e vencedor do prêmio Saif Ghobash Banipal Prize, pela tradução de seu próprio livro The Corpse Washer. Também fazem parte da coletânea nomes como Muhsin Al-Ramli, Nassif Falak, Ahmad Saadawi, Salar Abdoh, Hadia Said, Hayat Raies, Mohammed Alwan Jabr, Salima Salih, Hassin Muzany, Dheya Al-Khalidi, Roy Scranton, Ali Badr, Layla Qasrany.

Bagdá noir é um livro com o melhor do suspense e do entretenimento noir que, aliado ao pano de fundo histórico das últimas décadas do Iraque, permite ao leitor conhecer um lado diferente de uma das cidades mais importantes do Oriente Médio. 

 

Sobre o organizador:

Samuel Shimon nasceu no Iraque, em uma família assíria, em 1956, e desde 1985 vive em Paris. É cofundador da Banipal, renomada revista internacional dedicada à literatura árabe contemporânea, e fundador e editor do popular site literário árabe Kikah. É organizador de Beirute39, uma antologia da nova geração de escritores árabes. Em 2005, publicou o romance autobiográfico ‘Iraqi fi Baris (Um iraquinao em Paris), que se tornou um best-seller no mundo árabe e foi traduzido para vários idiomas.

Sobre a tradutora:

Jemima Alves é pesquisadora afiliada à Universidade de Nova York, sob a supervisão do professor e escritor iraquiano Sinan Antoon, e doutoranda em Letras Estrangeiras e Tradução e mestre em Estudos Judaicos e Árabes (FFLCH-USP). É pesquisadora e membro do grupo Tarjama – Escola de Tradutores de Literatura Moderna (USP). Atuou como intérprete árabe-português no contexto de refúgio no programa de voluntariado do Conselho Nacional para os Refugiados e da Caritas – SP. Realizou parte da sua formação acadêmica em Portugal (Universidade de Évora) e em instituições em países árabes, como Marrocos (Ibn Battuta Arabic Scholarship, oferecida a alunos reconhecidos pela dedicação e excelência no estudo da Língua e Cultura Árabe), e Omã (Sultan Qaboos College, ensinando língua árabe para estrangeiros).

Sobre a editora Tabla:

A editora Tabla tem como foco a publicação de livros referentes às culturas do Oriente Médio e do Norte da África e seus ecos mundo afora. Com o objetivo de ressaltar os pontos de contato, percorrendo e construindo pontes culturais, nosso desejo é apresentar e representar essas culturas de forma autêntica, longe dos estereótipos.

Assim como as tamareiras, o projeto Tabla foi semeado muito antes de prover seus frutos. Cultivada há mais de 10 anos, foi somente em 2016 que as primeiras bagas brotaram.

1. Um livro sobre o ethos iraquianoParece surpreendente imaginar que um livro de histórias policialescas e noir possa revelar a história de um país, mas é exatamente esse o caso de Bagdá noir. Por trazer narrativas que estão imersas em um Iraque que se reconfigura após a guerra, o livro se torna uma excelente forma de conhecermos um “ethos” do iraquiano, marcado pela ditadura de Saddam Hussein e pela invasão estadunidense.2. Histórias de crimes “diferentes”Em Bagdá noir temos uma série de histórias sobre crimes e investigações, do jeito que os leitores do gênero gostam. Porém, ao contrário das histórias noir tradicionais, nas quais temos uma classe burguesa que desce aos porões do submundo, em Bagdá noir essas fronteiras entre as classes sociais estão borradas pelos eventos históricos e nos deparamos com uma sociedade espatifada e uma cidade em ruínas.3. A ditadura de Saddam Hussein e a invasão estadunidenseEm muitos contos da coletânea, podemos encontrar vestígios da ditadura de Saddam Hussein e da invasão norte-americana. Enquanto alguns contos se referem diretamente aos efeitos da ditadura no cotidiano das pessoas e deixam um rastro de desconfiança e silenciamento, outros retratam os efeitos da guerra promovida pelos EUA, dando-nos a ver uma fragmentação política, social, religiosa e étnica que resultam em uma série de violências e crimes estatais, paraestatais e urbanos.4. Uma literatura (também) do traumaUm mundo imerso em tantas violências sociais e políticas faz com que os crimes de Bagdá noir nem sempre sejam motivados pelos casos típicos do gênero, como traições, heranças, roubos de joias, etc. Mais do que centradas em crimes de “classes”, as  histórias de Bagdá noir testemunham um trauma coletivo e uma duradoura resiliência do espírito iraquiano em meio aos desdobramentos da vida real e de um estado de desespero contínuo, do qual a literatura noir oferece apenas uma ideia.5. Diversidade étnicaHistoricamente, o Iraque é um dos países mais diversos do mundo em termos étnicos. Embora o árabe seja a língua dominante, o curdo, o turcomeno, o assírio, o armênio, o siríaco e o persa também são falados em diversas regiões do país. Esses diversos grupos étnicos e linguísticos refletem, por sua vez, uma série de crenças religiosas. Bagdá é conhecida como um lugar de congruência entre a cultura, o comércio e o ensino árabes e tudo isso atravessa as histórias de Bagdá noir.

Título: Bagdá noir
Série: Série Noir 
Organizador: Samuel Shimon
Autores: Muhsin Al-Ramli, Nassif Falak, Sinan Antoon e outros
Tradutora: Jemima Alves 
Editor: Lielson Zeni
Projeto Gráfico: Tereza Bettinardi
Editora: Tabla
Edição: 2023, 1ª edição
Número de páginas: 352

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