Em pleno século 21, o Diabo –
quem diria! – anda em baixa entre os mortais, apesar de ter gente invocando o
anjo das trevas a qualquer pretexto, o tempo todo. Quase obsoleto, diante da
crueza humana, o Diabo segue deprimido, contrafeito, autoridade abalada,
perdendo feio para homens e mulheres que o superaram de maneira formidável em
matéria de maldade e poder de destruição.
Em O fastio do Diabo, seu novo
romance, Ana Luisa Escorel cria uma
sátira sociopolítica de certa região ao sul do Equador, unindo passado e
presente com humor ácido e um trabalho perspicaz da linguagem, quando perpassa
522 anos da história desse lugar para concluir que o tinhoso conta nele com extraordinários
aliados.
Dividindo o livro em três partes
– “O fastio do Diabo”, “Culpa e castigo” e “Dando conta do recado”– Ana Luisa
imagina uma reunião de membros da alta cúpula do Reino Maldito – na presença do
senhor inconteste daqueles baixios – tendo como objetivo levantar o humor do
anjo caído, ao trazer a ele o resultado mais que positivo das doutrina e das
práticas, malignas, nesse determinado canto do mundo. Um Enviado – que tem como
tarefa provocar o desacerto alimentando-o sem trégua – desfia o relatório de
suas atividades ao Mestre Infernal, dando conta dos meios com que destilou, por
mais de quinhentos anos, o racismo, a insensatez, o suborno, a manipulação da
fé, a hipocrisia, o silenciamento de minorias, o culto ao dinheiro e à ignorância
e assim por diante.
A segunda parte do romance traz
uma espécie de fantasia delirante e não obedece a nenhum esquema lógico. Trata-se
de um exercício de invenção que toma como modelo esquemas de associção
extremos, próximos do universo livre das crianças. Na terceira, o Enviado se
gaba das conquistas recentes, nesse canto do mundo, onde forças progressistas,
num dado momento, ousaram tentar a subversão da ordem opressiva, estabelecida
pelos donos do poder.
Ana Luisa Escorel
aposta na sátira para pensar o destino trágico do Brasil
Primeira mulher a vencer o Prêmio
São Paulo de Literatura de 2014 com o romance Anel de vidro (Ouro sobre Azul), Ana Luisa Escorel publica sua
terceira obra de ficção pela mesma editora e amplia a versatilidade entre
gêneros literários. Transitando entre a memória, a crônica, o romance – inclusive o histórico – e, agora, a sátira, a
própria autora se surpreende diante dessa variedade de maneiras que tem usado
para chegar aos temas.
Tão atual quanto eloquente, Ana
Luisa Escorel tenta mostrar, neste novo romance, que diante da realidade socio-politica
que atordoa o Brasil e o mundo, até mesmo o Diabo acaba se recolhendo a uma
impensada insignificância.
Título: O fastio do Diabo
Autora: Ana Luisa Escorel
Editora: Ouro sobre Azul
Número de páginas: 192
ISBN: 978-65-995518-3-3
Dimensão 11.5 cm X 16 cm cm
Brochura
Ana Luisa Escorel
Nasceu em 1944 em São Paulo, onde passou a infância e a adolescência. - Entrou para a ESDI, Escola Superior de Desenho Industrial, no Rio de Janeiro, em 1964, integrando a primeira geração de designers com formação regular e nível superior no Brasil. - Atua profissionalmente desde 1970 e em 1999 fundou a Ouro sobre Azul, empresa voltada para a atividade de design gráfico em vários setores e também para a edição e a distribuição de livros. Antes disso participou da criação do A3 Programação Visual e Desenho de Produto – 1980-1996 e do 19 Design – 1996-2003. - É autora dos livros Brochura brasileira: objeto sem projeto, José Olympio, 1974; O efeito multiplicador do design, SENAC São Paulo, 1999, 1º lugar no prêmio Museu da Casa Brasileira na categoria ensaio, 2000; O pai, a mãe e a filha, Ouro sobre azul, 2010; Anel de vidro, Ouro sobre Azul, 2013, Prêmio São Paulo de Literatura na categoria melhor romance do ano de 2014; De tudo um pouco, Ouro sobre Azul, 2016; Dona Josefa, Ouro sobre Azul, 2019 e A formação de Antonio Candido, Ouro sobre Azul, 2020. Concebe e desenvolve seu trabalho no Rio de Janeiro, onde vive desde 1964.