Na pequena Baghdati, há exatos 132 anos, nascia um dos maiores poetas do século XX, Vladímir Maiakóvski. A cidade, hoje pertencente à Geórgia, integrava o império russo. Para celebrar a data, compartilho, em primeira mão, trechos da tradução que fiz do grande poema Uma nuvem que usa calças. Na tradução, procurei reproduzir os vários neologismos criados pelo poeta, como se pode ver no trecho abaixo.

Minha alma não tem cabelo branco algum,
do caquético carinho nada nela pôs-se
com a força da voz eu vou enormizando o mundo
seguindo belo
com meus vinte e dois.

A opção por verter o título como Uma nuvem que usa calças ocorreu durante o processo de tradução do poema. Embora as traduções predecessoras tenham consagrado o Nuvem de calças, acredito que o verso – de onde Maiakóvski tirou o nome do poema, após a censura impedir o uso de sua primeira opção, O décimo terceiro apóstolo – centra-se mais na figura do homem do que na nuvem. É o que especula o mestre Antonio Candido que, sob o pseudônimo de Fabrício Antunes, afirmou que a tradução em espanhol “La nube en pantalones”, em comparação com a francesa, “L’homme nuage” (O homem nuvem), punha a tônica na nuvem vestida de calças, “quando na verdade se tratava de homem se sentindo nuvem. A tônica se deslocava, portanto, do natural para o humano”. Para exemplificar meu ponto de vista, reproduzo o trecho em que o título aparece no poema:

É só querer
e serei um cão sem dono, miserável,
e, igual ao céu, eu mudo o tom com o que passa,
é só querer
e serei de uma ternura impecável,
um homem não, mas uma nuvem que usa calças.

Durante toda sua vida, Maiakóvski colecionou rivais e desafetos. Não só gostava como estimulava as polêmicas. Era algo semelhante aos que os jogadores de futebol do Rio de Janeiro faziam nos anos 1990 como Romário, Túlio, Renato Gaúcho e Edmundo, provocando uns aos outros. Era uma briga muito mais encenada do que real. O grande poeta da Rússia, em 1914, ano em que o poema começou a ser escrito, era Igor Sievieriânin, com quem Maiakovski manteve uma relação marcada pela rivalidade e admiração. Àquela altura, ele, que era o fundador do Ego-Futurismo, era o alvo perfeito dos petardos do jovem Maiakóvski, como podemos ver no trecho abaixo:

Como o senhor ousa se chamar poeta
e, como codorna, soltar um pio estranho!
Hoje
é preciso
botar meu soco inglês na reta
e estraçalhar o mundo pelo crânio!

 

***

A obra já está em pré-venda na página da editora Piparote (https://piparote.com.br/…/uma-nuvem-que-usa-calcas…/). Além desse texto, serão publicados mais 30 poemas, o que configura toda a produção de Maiakóvski em 1915, ano em que veio à lume Uma nuvem que usa calças, espécie de ápice de sua fase futurista.

 

Pré-venda
  • Livro físico
  • Autor: Vladímir Maiakóvski
  • Tradutor: Astier Basílio
  • Editora Piparote
  • 120 pág
  • 1° edição (2025)
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